Os evangélicos já são um terço da população brasileira, segundo projeções do Datafolha. E para liderar esse imenso rebanho, cada vez mais as denominações evangélicas investem na formação de novos pastores, numa visão – recente – de privilegiar o conhecimento em busca de crescimento e qualidade.
A rotina de formação de novos pastores no Brasil, atualmente, é mais parecida com o que os protestantes sempre fizeram ao redor do mundo ao longo de cinco séculos desde a Reforma iniciada por Martinho Lutero.
Um curso de teologia sério, reconhecido pelo Ministério da Educação e respeitado por denominações sólidas, por exemplo, é composto de muitas disciplinas, além dos estágios, que devem ser cumpridos nas igrejas.
Diferentemente do que se possa imaginar, a rotina dos formandos não é de orações e memorização de versículos bíblicos, mas sim, um aprofundamento sobre o assunto – incluindo história, idiomas, filosofia e outras matérias – de forma tão severa quanto qualquer outro curso superior.
A partir de casos cotidianos, sobre temas comuns à vida, os estudantes de teologia vão se aprofundando na busca do conhecimento bíblico que pode ser aplicado no mundo atual, e assim, preparando-se para as tarefas de aconselhamento que serão parte de suas rotinas quando estiverem formados e consagrados ao ministério pastoral.
Guilherme de Figueiredo Cavalheri, 27 anos, decidiu seguir carreira teológica em 2010, enquanto cursava a faculdade de História na Universidade Estadual Paulista (Unesp). Agora no último semestre da Faculdade de Teologia da Igreja Presbiteriana Independente, ele se prepara para passar por uma sabatina teológica com pastores e presbíteros.
“Ainda existe um certo preconceito a respeito da teologia por parte de muita gente nas igrejas, especialmente entre o povo evangélico, de que ‘estudar demais torna as pessoas críticas ou céticas'”, contextualizou Cavalheri.
Muitos estudantes de teologia, no entanto, deixam a faculdade por descobrirem incongruências entre o que aprenderam ao longo da vida e o que descobrirem ao se debruçarem sobre a história da Igreja, os textos originais em hebraico e grego, e os conceitos formados por pensadores nos primórdios da Reforma Protestante.
A jornada para se tornar pastor não é homogênea. No meio mais tradicional, como as igrejas Batista, Metodista e Presbiteriana, por exemplo, quase 100% dos pastores assumem essa posição depois de muito estudo. Já entre pentecostais e neopentecostais, o discipulado hierárquico é um caminho muito comum, com a transmissão de experiência e conhecimento num formato que repete a dinâmica do mestre e o aprendiz.
Felipe Vieira Gomes, de 25 anos, pastor da igreja neopentecostal Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra, no Grajaú, periferia de São Paulo, se divide entre a faculdade de Administração e os cultos, e chegou ao sacerdócio aprendendo com os mais velhos.
“Na nossa igreja, o pastorado não é profissão, é paixão. Não enxergamos como profissão, porque nós não temos salário. Algumas pessoas têm ajuda de custo porque vivem longe da igreja, mas cada um tem o seu trabalho”, explicou, em entrevista ao G1.