É na igreja onde vemos grande parte dos problemas enfrentados por nossos irmãos evangélicos. Bem diferente do que muitos imaginam, a igreja não é local imune a defeitos e dilemas da vida humana, mas pelo contrário, é justamente onde todos os tipos de pessoas procuram ajuda, compreensão e aprendizado, sendo o abuso doméstico um dos vários problemas que pastores e líderes de ministérios precisam aprender a lidar.
Um levantamento feito pelo instituto de pesquisa LifeWay com cerca de 1.000 líderes religiosos americanos, revela como vítimas de abuso doméstico podem estar sofrendo por falta de capacitação desses líderes em suas comunidades. Mais da metade (52%) das igrejas evangélicas foram consideradas aptas para lidar com essa demanda, segundo a pesquisa, o que é considerado preocupante, visto que esse é o espaço onde o abuso doméstico pode ser tratado de maneira mais fácil, por fazer parte do dia-a-dia da comunidade.
Entre os 52% de igrejas, estão recursos como aconselhamento (76%), apoio financeiro para as vítimas (64%) e abrigo (61%), além de assistência jurídica e apoio moral de outras vítimas de abuso doméstico, que ajudam no enfrentamento do problema durante o processo de acolhimento. Todavia, cerca de 45% das instituições não possuem esses serviços, nem outros tipos de assistência.
Somado a essa falta de serviços, está a pouca ou nenhuma abordagem teológica dos pastores junto ao tema “abuso doméstico” em suas igrejas, bem como às próprias vítimas de abuso. Segundo a pesquisa, 47% dos entrevistados não tinham qualquer conhecimento sobre vítimas da sua comunidade nos últimos três anos.
O abuso doméstico é um tema real também presente nas igrejas
Ao lidar com pessoas, a igreja faz parte da realidade social da sua comunidade. Nela estão os problemas que partem, muitas vezes, do próprio pecado que separa o ser humano de Deus. Falar sobre o abuso doméstico e combate-lo também é tratar do pecado na sua forma de ignorância, violência contra a mulher e desprezo para com a doutrina bíblica, que põe a relação entre o homem e a mulher semelhante a de Cristo com a Igreja.
A pesquisa revela que pastores não sabem lidar como deveriam com casos de abuso doméstico. O divórcio, por exemplo, como resultado da violência contra a mulher, é algumas vezes “suavizado” em face de uma compreensão equivocada da doutrina bíblica.
Na prática, os abusadores colocam em prática algo chamado de “gaslighting”. Esse é um termo inglês que se refere à pessoas com perfil de manipulação muito poderoso, capaz de inverter, por exemplo, a culpa de um ato violento, de modo que muitos passam a enxergar a vítima como culpada e não o agressor.
Por fim, a pesquisa demonstra que por falta de capacitação, muitos líderes são manipulados por abusadores, fazendo-os minimizar a gravidade de uma situação de sofrimento que exigiria medidas policiais ou mesmo no divórcio, para uma mera situação do cotidiano, tratada sem o devido rigor doutrinário ou jurídico. Sem dúvida, essa é uma realidade inadmissível que precisa ser revertida, para que a igreja continue sendo um local de refúgio de quem busca na comunidade cristã o ambiente de amor, compreensão e segurança que nem sempre encontra dentro da própria casa.