Que as igrejas evangélicas são mais eficazes do que ONGs de ajuda humanitária, fundamentais para o desenvolvimento não apenas espiritual, mas também econômico de uma região, isso nós já sabemos, conforme o relato de pesquisadores que publicamos em outra matéria.
A diferença da matéria anterior em relação à essa, é que anteriormente os pesquisadores avaliaram, principalmente, a atuação das igrejas evangélicas na África. Dessa vez, porém, trazemos o relato de Juliano Spyer, autor do livro “Mídias Sociais no Brasil Emergente”.
Juliano Spyer esteve no Brasil por 15 meses, pesquisando a influência das mídias sociais em uma comunidade no interior da Bahia. Seu objetivo foi colher dados para elaboração da sua tese de Doutorado, já concluída no Departamento de Antropologia da University College London (UCL).
O autor observou o desenvolvimento de programas educacionais do brasil, quando comparado aos anos 80 e 90, verificando que o acesso às escolas aumentou nos últimos anos. “Os adultos do povoado tiveram à disposição 4 anos de curso, mas seus filhos hoje têm 12 e podem terminar o ensino médio. E o acesso à escola hoje é facilitado por causa de transporte, material e merenda oferecidos universalmente”, escreve o autor.
“Eu estava lá como antropólogo fazendo a pesquisa de campo para um projeto de doutorado sobre como o pobre brasileiro entende e usa as mídias sociais”, explica Spyer, que decidiu dar o nome fictício ao local onde ficou de “Balduíno”.
A influência das igrejas no aprendizado
Juliano Spyer observou que duas coisas principais contribuíram muito para a alfabetização e o interesse pela educação no Brasil. Uma delas é o acesso às redes sociais e internet em geral.
“A internet é o primeiro motivo que esses estudantes têm para querer e poder praticar a leitura e a escrita fora das escolas. É a primeira geração que tem essa motivação”, observa ele, destacando que “o jovem popular melhora sua redação ao usar as mídias sociais porque tem vergonha de ser ridicularizado por seus pares ao cometer erros de ortografia em arenas públicas”.
O outro grande fator para o desenvolvimento educacional nas comunidades carentes do Brarsil é a presença das igrejas evangélicas. “Havia uma situação em Balduíno que motivava a pessoa a aprender a ler e a escrever: passar a frequentar cultos evangélicos”, destaca.
“A igreja evangélica representa uma espécie de estado de bem-estar social alternativo que ajuda quem atravessa momentos difíceis – doença, desemprego, violência doméstica, casos de dependência química na família etc.”, completa o autor, ressaltando o que muitos de nós já sabemos, mas que falta ao poder público reconhecer mais, assim como a própria sociedade em geral.
Para o autor, a necessidade de ler a Bíblia motiva o aprendizado. Está na raiz da chamada Revolução Protestante a ideia de que o indivíduo deve ser capaz de ter um vínculo direto com o divino. E isso depende de ele ou ela ser alfabetizado para ler a Bíblia”, defende Spyer, segundo o seu artigo no jornal El Pais.
Por fim, o antropólogo também ressalta que como resultado, a maioria dos universitários que vem de regiões carentes pertencem às famílias evangélicas, apontando programas de ação social como diferenciais da prática eclesiástica.
“Por isso, não é raro que em lugares como Balduíno igrejas evangélicas ofereçam cursos de alfabetização de adultos. E a maioria dos universitários da região vem de famílias evangélicas.”