O crescimento dos evangélicos no Brasil, novamente, é visto pela imprensa internacional como um fator de grande influência na definição das eleições para presidente e Câmara dos Deputados.
O jornal The Washington Post e a emissora Fox News veicularam matérias destacando que a “força crescente” dos evangélicos deve exercer influência maior ainda na composição dos poderes Legislativo e Executivo a partir de 2019. Nos últimos pleitos, essa influência foi notada a partir do crescimento numérico de parlamentares da bancada evangélica.
A eleição do bispo Marcelo Crivella (PRB) para a prefeitura do Rio de Janeiro – segunda maior metrópole do país e principal destino turístico – foi citada como um exemplo de capacidade de mobilização de eleitores do segmento evangélico.
Na matéria do Washington Post, um tema que é apresentado como o principal aglutinador é a determinação do público evangélico em barrar as constantes tentativas de legalizar a prática do aborto no país.
“O voto evangélico é muito orgânico em que pastores e bispos têm um relacionamento com seguidores que influenciam como eles votam”, disse o analista Antonio Lavareda, que escreveu vários livros sobre a política brasileira, em entrevista ao jornal norte-americano. “É o oposto na Igreja Católica, onde, apesar de ter mais fiéis, os padres têm menos influência direta”.
O Brasil abriga o maior número de católicos do mundo – cerca de 123 milhões, segundo o último censo, de 2010. “Mas os evangélicos estão crescendo e agora são 42 milhões, ou cerca de 20% dos católicos. a população total”, destacou a Fox News.
A influência dos evangélicos se estende à mídia. O caso do bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal, dono da RecordTV e tio de Crivella, foi citado como um exemplo da amplitude da influência que o segmento vem construindo na sociedade brasileira. Outro caso citado são as locações de horários nas grades das emissoras de TV com sinal aberto.
O pastor Silas Malafaia foi descrito como “um dos pastores mais influentes do Brasil” que não costuma pedir desculpas “por tentar influenciar os votos dos fiéis de suas mais de 50 igrejas”.
Recentemente, ao conceder uma entrevista à Associated Press, Malafaia disse orgulhosamente que ele ajudou a eleger 25 representantes e cinco senadores. Seu próprio irmão é um representante do estado no Rio de Janeiro. “Eu ajudo os candidatos a serem eleitos emprestando-lhes minha imagem e palavras”, disse o pastor, que no púlpito e nas mídias sociais argumenta que candidatos progressistas promovem “lixo moral” com posições liberais sobre a união de pessoas do mesmo sexo e o aborto.
Malafaia tem expressado seu apoio a Jair Bolsonaro (PSL), descrito pela emissora como um deputado federal “de extrema direita e ex-capitão do Exército que prometeu reprimir o crime e erradicar a corrupção na política”.
“No Brasil, precisamos de um machão como ele”, disse Malafaia, acrescentando que Bolsonaro “defenderá todos os valores e princípios da família cristã”. O pastor, que visitou o candidato no hospital após a tentativa de assassinato em Juiz de Fora (MG), vem atuando de forma enfática no apoio ao amigo. “Deus é um especialista em transformar o caos em uma bênção”, disse Malafaia no vídeo que gravou durante a visita a Bolsonaro no Hospital Albert Einstein.
A matéria publicada pela emissora norte-americana entrevistou Albanita Alves, uma dona de casa que frequenta a Assembleia de Deus Vitória em Cristo no Rio de Janeiro. Ela revelou que seguirá os conselhos de seu pastor: “Temos a liberdade de escolher nosso candidato. Mas como um homem de Deus, [Malafaia] tem uma visão mais ampla do que nós, por isso é importante que nós vejamos o ponto de vista dele”, afirmou.
Atração
A dedicação dos candidatos a visitar as igrejas evangélicas com o propósito de conseguir votos também foi destaque dos veículos. Em agosto, Bolsonaro, católico, chorou ao receber uma oração durante visita à Igreja Batista Atitude, no Rio de Janeiro.
“Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo que também é católico, foi convidado especial durante uma reunião de pastores no estado no mês passado. Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente que pertence a uma igreja evangélica, recentemente prometeu aos evangélicos em Belo Horizonte, a terceira maior cidade do Brasil, que qualquer mudança na lei do aborto teria que ser feita por meio de plebiscito e não pelo Congresso”, resumiu o texto.
O voto evangélico pode ser mais importante do que no passado, porque o campo eleitoral está muito fragmentado, com mais de uma dúzia de candidatos à presidência, e com o ex-presidente Lula fora do pleito por estar preso após condenação em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro.
Nesse contexto, Bolsonaro lidera as pesquisas, com apoio de 33% do público evangélico, segundo dados da pesquisa Ibope da semana passada. 10% dos evangélicos apoiaram Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede) e 7% disseram ter intenção de votarem em Ciro Gomes (PDT). Distante desse pelotão estava Fernando Haddad (substituto de Lula) com baixo apoio do segmento.
“Hoje os candidatos mais alinhados com nossos valores são Alckmin e Bolsonaro, mas ainda precisamos conversar com eles para saber o que cada um está propondo”, afirmou o bispo Robson Rodovalho, um dos fundadores da Comunidade Sara Nossa Terra, segundo reportou o Washington Post.