Quais os aspectos da realização de cultos ou missas que podem contribuir para o agravamento da pandemia de covid-19? A infectologista Denise Garrett concedeu uma entrevista explicando que as características dos templos e das celebrações presenciais podem atuar como vetor do vírus.
Igrejas, em geral, são ambientes fechados, com pouca ventilação e amplo contato entre fiéis. No caso dos evangélicos, o momento de louvor é visto como risco, pois o ato de cantar pode expelir saliva; já na liturgia católica, a comunhão seria o fator mais agudo.
Na entrevista à BBC News Brasil, Denise Garrett afirmou que participar de um culto “vai contra qualquer medida de bom senso para preservar vidas e controlar a pandemia”.
Segundo ela, que foi integrante do Centro de Controle de Doenças (CDC) do Departamento de Saúde dos EUA e atualmente é vice-presidente do Sabin Vaccine Institute, em Washington, “celebrações religiosas são ambientes de alto risco”.
“Temos vários relatos de surtos originados em locais de culto. Não somente por serem ambientes fechados, mas também pelas atividades desenvolvidas (orações, corais, canto) que propiciam liberação de partículas virais no ar”, explicou. “Então, do ponto de vista epidemiológico a reabertura de igrejas nesse momento da pandemia no Brasil, com altas taxas de transmissão e falência do sistema de saúde, é algo que vai contra qualquer medida de bom senso para preservar vidas e controlar a pandemia”, acrescentou.
Cultos online
A postura da infectologista pode ser ilustrada com a recomendação do Departamento de Saúde do estado de Illinois, que orienta “fortemente” que as congregações continuem a promover solenidades “remotas, especialmente para aqueles que são vulneráveis à covid-19, incluindo adultos mais velhos e aqueles com doenças crônicas”.
“Mesmo com a adesão ao distanciamento físico, várias famílias diferentes se reunindo em um ambiente congregacional para o culto carregam um risco maior de transmissão generalizada do vírus que causa a covid-19 e pode resultar em aumento das taxas de infecção, hospitalização e morte, especialmente entre as populações mais vulneráveis”, afirmou o órgão.
“Em particular, o alto risco associado a atividades como canto e recitação em grupo pode anular os comportamentos de redução de risco, como o distanciamento social”, reiterou.
O CDC, responsável pelas diretrizes de combate à pandemia nos EUA, também se posiciona contra a realização de cultos e missas, dizendo que ”participar de eventos e reuniões aumenta o risco de obter e disseminar a covid-19″.
“Milhões de americanos consideram o culto uma parte essencial da vida. Para muitas tradições de fé, reunir-se para adoração é a essência do que significa ser uma comunidade de fé. Mas, como os americanos agora sabem, as reuniões representam um risco de disseminação crescente de covid-19 durante esta Emergência de Saúde Pública”, frisou o CDC, de acordo com informações do G1.
A infectologista Garrett diz que nos casos de “transmissão por aerossol”, quando o vírus é espalhado no ar através da saliva, “os chamados ‘protocolos de segurança’ em uso, não são efetivos”.
“A menos que esses protocolos envolvam medidas de ventilação, para melhorar a qualidade do ar, são de pouca valia. As partículas se acumulam no ar e circulam a uma distância muito maior do que a distância recomendada nesses protocolos. A máscara é muito importante, assim como o distanciamento social. Mas, em última análise, em um ambiente fechado, de má circulação, o risco é muito maior”, concluiu.