As proibições impostas por prefeitos e governadores, com chancela do Supremo Tribunal Federal, às celebrações de cultos presenciais foi criticada pelo reverendo Augustus Nicodemus, que lembrou das garantias constitucionais e questionou o que virá a seguir se os cristãos brasileiros não protestarem contra o cerceamento da liberdade religiosa.
O pastor da Igreja Presbiteriana do Recife falou a respeito do tema em uma entrevista concedida para promover o lançamento de seu novo livro, O Que a Bíblia Fala Sobre Dinheiro, editado pela Mundo Cristão.
À jornalista Anna Virginia Balloussier, da Folha de S. Paulo, Nicodemus deixou claro que se opõe ao fechamento de templos e aos decretos de confinamento, tratado pela grande mídia pelo termo “lockdown”.
Questionado se considerava razoável que os cultos presenciais fossem proibidos “em fases críticas” – critério recheado de subjetividade –, Nicodemus rejeitou prontamente: “Há duas questões para separar. Quando a gente briga para manter igreja aberta dentro das regras sanitárias, é pelo direito de culto garantido pela Constituição. A única maneira de revogá-lo é o estado de sítio, e só o presidente pode declarar um, o Congresso tem que aprovar”.
“Do jeito que está não está bom, é uma coisa que está saindo da cabeça de governadores e prefeitos. Fechar de forma arbitrária é a Constituição sendo violada. O que vem depois?”, questionou o pastor.
Por outro lado, Augustus Nicodemus ponderou que “muitas igrejas que querem manter o culto não fazem isso com preocupação cívica”, o que prejudica o pleito legítimo dos cristãos e religiosos em geral: “Estão preocupadas porque têm um sistema de arrecadação que depende do [culto] presencial. Para não serem estranguladas financeiramente, vão dizer o que for necessário para defender igrejas abertas”, afirmou.
Balloussier questionou se o pastor considera necessário fazer “lockdown” no atual cenário, com milhares de mortes diárias por covid-19. Nicodemus pontuou que a decisão mais equilibrada seria seguir a receita usada em outros momentos de surto e/ou epidemias: isolamento vertical dos grupos de risco.
“Tenho dificuldades com o lockdown como medida para resolver [a pandemia] em definitivo. Minha igreja é de classe média. Quem tem sofrido muito é o pessoal de classes mais baixas. Acho que não é resposta para essa situação. Há outros aspectos”, avaliou. “Há pessoas que entram em depressão, o nível de divórcio aumentou… Você é obrigado a estar em casa com sua mulher, coisa que não fazia antes. As famílias se fragmentando, pessoas em busca de ajuda profissional para saúde mental”, acrescentou o pastor.
“Tem gente que vai dizer ‘é direito meu, prefiro arriscar morrer desse vírus ou eu morro sem ganhar o pão de cada dia’. O lockdown fere muito o trabalhador, a diarista. O pessoal das classes média e alta não sentem tanto. Vão fazer como você e eu: home office. […] Lockdowns causaram o desastre na economia, não vejo como podem ser a cura dela. Talvez se tivéssemos usado desde o início lockdowns verticais e localizados, medidas sanitárias já comprovadas e educado a população para usá-las, quem sabe salvaríamos o mesmo número de pessoas sem destruir seus empregos e sanidade mental no processo”, reiterou.
Sobre as eleições presidenciais em 2022, Augustus Nicodemus evitou cravar seu apoio à reeleição de Jair Bolsonaro, criticando a postura do presidente durante a pandemia. Mas, deixou claro que não há outras opções que se identifiquem com os valores defendidos pelos cristãos: ”Votaria mais uma vez dependendo de quais seriam as opções. É o voto útil, menos ruim. Infelizmente, [o presidente] se precipita com as palavras, toma atitudes que não ajudam a população”.
“Todo mundo reconhece que ele poderia ter sido mais prudente na condução da pandemia, até pelo próprio exemplo —ele aparece sem máscara. Poderia ter se saído melhor. […] A questão toda é que o cristão, ele olha a agenda de costumes. [Bolsonaro] tem uma agenda conservadora, mais próxima dos evangélicos. Se aparecesse um candidato com questões relacionadas à família, certamente eu votaria. Olhando as opções que têm aí, ainda me vejo sem muitas opções”, explicou.
Ao final, lamentou que o ex-juiz e ex-ministro da Justiça tenha demonstrado não ter um compromisso claro com os valores conservadores: “Teve uma época em que a gente tinha esperança no Sérgio Moro, mas depois ficamos meio sem saber onde ele está. […] Nunca votei no Lula. Infelizmente, tem muitas igrejas penduradas com o fisco e que têm interesse em ficar do lado do poder. Estão devendo até a alma”, finalizou.