A situação de risco constante de morte para os cristãos no Afeganistão após a retomada do poder pelo Talibã tem levado muitos fiéis a deixarem as cidades rumo a áreas desertas, numa tentativa de sobrevivência ao que definem como um “inferno”.
Um dos complicadores para os cristãos afegãos é o fechamento das fronteiras com países vizinhos. Dessa forma, a única alternativa é fugir para áreas remotas e esperar que isso baste para que escapem da repressão.
A organização Release International relatou que mesmo antes da queda do governo do Afeganistão, os cristãos do país sofriam com perseguição. Na visão do diretor dessa entidade, Paul Robinson, esse histórico amargo pode ter uma função positiva agora, com o agravamento da situação.
“A única coisa boa que podemos dizer sobre isso é que a Igreja subterrânea está cada vez mais bem equipada para resistir à tempestade”, comentou Robinson.
A perseguição que os cristãos sofriam no Afeganistão se transformou em risco iminente de morte porque o Talibã os considera apóstatas e, por conta disso, dignos de morte.
De acordo com informações do portal Christian Today, a Release International diz que muitos dos cristãos sobreviventes estão escondidos após receberem ameaças de morte.
“A Igreja é invisível e já aprendeu a operar no subsolo”, reiterou Robinson, acrescentando que a Release International tem feito parceria com outras organizações para fornecer literatura cristã, material de discipulado digital e transmissões para encorajar e capacitar os crentes no Afeganistão e países vizinhos.
‘Inferno’
“O apoio e o incentivo […] seja pelo rádio, televisão por satélite ou mídia social, nunca foram tão necessários como hoje. A Igreja está tendo que aprender a operar como a Igreja primitiva no livro de Atos – sob a contínua ameaça de perseguição”, acrescentou.
Para agir de forma assertiva, sem riscos de se pautar por boatos, a organização tem priorizado manter o contato com os perseguidos: “Conversamos com parceiros que estão trabalhando diretamente com a igreja clandestina”, disse, citando como exemplo o ministério de mídia cristã SAT-7 Pars, que transmite programas religiosos para o país por satélite.
Um dos relatos mais aflitivos é o de um cristão que está preso no país e enviou um pedido de oração: “Ó Senhor Deus, por favor, proteja-nos, porque estamos enfrentando o inferno”.
“Minha família e eu viemos a Cristo há dois anos. Eu e minha família recebemos ameaças de morte. Não tenho outra maneira a não ser fugir do país. Ajude-nos a sermos ouvidos para que possamos fugir deste inferno”, disse outro.
Uma mensagem de um terceiro cristão dizia: “Os terroristas estão em processo de nos ocupar, demolindo o que possuímos. Para onde podemos ir? O que podemos fazer? Por favor, continuem a orar por nós”.
Panayiotis Keenan, diretor do ministério SAT-7 Pars, afirmou que tem sido difícil ouvir os relatos e estar de mãos atadas: “Cristãos afegãos estão nos contatando diariamente, descrevendo como a situação é difícil. Eles estão se escondendo e se reunindo em locais secretos. Mas o inverno está chegando e isso logo se tornará cada vez mais difícil”.