O filme Pantera Negra pode ser considerado um sucesso de bilheteria, mas também um fenômeno de repercussão. A estratégia do Marvel Studios em promover o filme por um viés politizado, escalando uma equipe de produção e direção formada por negros – além da óbvia seleção de atores negros para representar o país fictício de Wakanda, na África – levou o longa a ser um centro de debates sobre igualdade, racismo, opressão e, pasmem, islamofobia.
A cena de abertura do filme traz a personagem Nakia, interpretada pela vencedora do Oscar Lupita Nyong’o, em uma situação de sequestro por terroristas, junto com outras mulheres. O herói do filme, Pantera Negra, surge no meio da floresta para resgatar Nakia, que é também sua ex-namorada e uma espiã de Wakanda.
No meio do confronto, um dos terroristas agarra Nakia e diz: “Wallahi (por Alá), vou atirar nela agora”. Após a ameaça, a equipe do herói consegue impor uma reviravolta na situação e as mulheres sequestradas, assim como Nakia, retiram os hijab (lenços que cobrem a cabeça) que eram forçadas a usar.
Essa única cena foi suficiente para que o longa-metragem fosse acusado de islamofobia. Sherene Razack, um professor da Universidade de Toronto, considerou a cena uma ferramenta de “perpetuação do estereótipo do homem muçulmano bárbaro, da mulher muçulmana oprimida e dos não muçulmanos em perigo”.
A representação feita no filme é, infelizmente, uma realidade do continente africano. Grupos extremistas como o Boko Haram, da Nigéria, sequestram mulheres e as obrigam a casar com seus soldados, quando não as vendem como escravas sexuais depois de obrigarem-nas a negar sua fé cristã.
Mas, para os defensores do politicamente correto, a denúncia de uma realidade é interpretada como uma postura preconceituosa: “Contribui e reforça as visões pobres e estereotipadas de Hollywood sobre o islamismo e os muçulmanos”, acusou o jornalista Faisal Kutty, acrescentando que trata-se de um filme com “estímulo à islamofobia”.
Segundo informações do portal Middle East Eye, o líder islâmico Sami Aziz afirmou que “Pantera Negra perpetua a tendência de centenas de filmes em descrever os muçulmanos como predadores sexuais sanguinários”.
De forma previsível, os críticos que acusam Pantera Negra de ser islamofóbico minimizam a semelhança da cena de sequestro com os relatos da ação do Boko Haram na Nigéria, alegando que o grupo extremista “não representa o islamismo”.
Alheio a tudo isso, o filme já é a terceira maior bilheteria da Marvel nos Estados Unidos, de acordo com a Variety, com arrecadação, até o momento, de US$ 411,7 milhões. Dentre os filmes do estúdio, somente Vingadores, que fez US$ 623,3 milhões, e Vingadores: Era de Ultron, que gerou US$ 459 milhões, estão à frente. Fora do país, Pantera Negra já somou US$ 316,2 milhões em ingressos vendidos.