A polêmica levantada na sociedade por conta de uma abordagem parcial por parte da mídia a respeito da decisão da Justiça em conceder autorização a pessoas homossexuais com distúrbio de egodistonia a liberdade de procurarem auxílio psicológico junto a profissionais, fez surgir histórias peculiares e opostas de pessoas com diferentes visões a respeito do assunto.
O mestre em saúde Claudemiro Soares, 43 anos, um dos envolvidos na ação popular que resultou na decisão da Justiça que concedeu o direito à liberdade de atendimento a homossexuais em busca de orientação a respeito da sexualidade, relatou sua história de vida à jornalista Anna Virginia Balloussier, da Folha de S. Paulo.
Ex-homossexual, Soares revelou que foi “infernizado pela militância LGBT” por se posicionar a favor da iniciativa dos psicólogos, que terminou em uma suspensão de uma interpretação da resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP), que proibia psicólogos de receberem homossexuais egodistônicos em seus consultórios. Ele é autor do livro Homossexualidade Masculina: Escolha ou Destino, publicado em 2008.
Do outro lado, a jornalista ouviu o “ex-ex-gay” Sergio Viula (foto), 48 anos, que diz já ter sido pastor e que abandonou a religião por concluir que seus desejos sexuais não tinham nada a ver com a fé em Deus.
Viula, que foi casado por 14 anos e tem dois filhos, afirmou que pegou birra de Deus por considerá-lo “sádico”, já que se a homossexualidade é pecado, não entendia porque Ele não o livrava do desejo por homens.
O “ex-ex-gay” diz ter sofrido bullying na infância, com apelidos como Capitão Gay, Ney Matogrosso e boiola: “Nessa fase os garotos são muito machistas. Não sabem nem o que fazer com pinto direito, mas já falam como se fossem grandes homens. As meninas eram ótimas amigas para mim, mas eram os meninos que me interessavam”, contou.
Na fase adulta, virou evangélico, se tornou pastor, liderou o Movimento pela Sexualidade Sadia, e depois, com a desilusão com a religião, decidiu que preferia admitir sua homossexualidade e abandonar a fé, ao invés de suprimir seu desejo.
Os dois casos, retratados com certa dose de parcialidade no texto da jornalista Anna Virigina Balloussier, fazem parte de um cenário improvável: a apologia à chamada “cura gay” por parte dos evangélicos.
Na matéria, Balloussier diz que os psicólogos responsáveis pela ação “acusam” o CFP de censura por proibir “psicólogos de desenvolver estudos, atendimentos e pesquisas científicas”, sem admitir que a interpretação em voga, até então, limitava essas variáveis da atuação dos psicólogos em geral.
“O juiz frisou que ser gay é ‘uma variação natural da sexualidade humana’, e não ‘condição patológica’, rótulo descartado em 1990 pela Organização Mundial da Saúde. Dito isso, determinou que o CFP não vete estudos ou atendimentos, ‘de forma reservada, pertinentes à (re) orientação sexual, garantindo a plena liberdade científica'”, escreveu Balloussier, precisando admitir que a decisão da Justiça não se trata da suposta imposição da “cura gay”.