A Record TV estaria vivendo dias de turbulência nos bastidores por conta da intrínseca ligação com a Igreja Universal do Reino de Deus. Um jornalista especializado em TV publicou que há interferências desde a produção de novelas até o jornalismo.
Edir Macedo é o proprietário da Record TV, e fundador da Igreja Universal do Reino de Deus. A ligação entre a instituição e a empresa, no entanto, vai além e envolve inclusive bispos da denominação licenciados para atuarem como diretores da emissora.
Segundo o jornalista Rogério Frandoloso, do portal O TV Foco, o fato de a emissora dedicar parte de sua grade de programação para inserções e programas religiosos da Universal tem incomodado funcionários.
“A programação da emissora contém mensagens e minutos dedicados à religião do bispo Edir Macedo, que também é o dono do canal paulista. O problema é que essa ligação nunca foi assumida formalmente e tem gente que não gosta dessa ‘interferência’”, publicou Frandoloso.
Ainda segundo o jornalista, “um dos grandes problemas, que gera enorme burburinho na redação, é o fato da emissora dedicar ‘1 minuto de paz’ durante o programa Balanço Geral SP e mostrar momentos um tanto quanto pessoais dentro dos cultos e encontros religiosos da Igreja Universal”.
Parte dos colaboradores da Record TV estariam, segundo o jornalista, incomodados com o tamanho da influência dos bispos da Universal que trabalham na emissora. “A grande dificuldade dos diretores do canal é enfrentar a forte pressão dos religiosos da IURD, que insistem em palpitar tanto na dramaturgia, quanto no jornalismo. Antonio Guerreiro, responsável pelo jornalismo da Record, segue com problemas para comandar do seu jeito o setor”, concluiu Frandoloso.
Os rumores de insatisfação entre funcionários da Record TV quanto à programação da Universal não são novos. Veículos de mídia especializados em programação de TV falam desse cenário há anos, mesmo que grande parte das receitas da emissora venham da locação de horários para a denominação liderada por Macedo.
Em 2014, jornalista Ricardo Feltrin publicou na Folha de S. Paulo que a Universal estaria pondo em prática um planejamento que culminaria com a saída da denominação da Record até 2020.
“Na surdina, dirigentes da Igreja Universal do Reino de Deus já fazem planos de abandonar as madrugadas da emissora até o final desta década. Motivo: um elaborado plano autossustentável de doação e amealhamento (sic) de mais fiéis graças aos espaços ocupados em outras emissoras, além da Record“, escreveu Feltrin à época.
“O prazo de seis anos para a saída pode ser ainda menor, dependendo da ‘competência’ que o Departamento Comercial [da emissora] mostrar. Explico: há 20 anos, quem banca a maior parte dos gastos e das produções da Record —inclusive a compra do megalomaníaco complexo RecNov no Rio— é justamente as dezenas de milhões de reais que a igreja paga mensalmente para ocupar as madrugadas”, acrescentou o jornalista na ocasião.
“Uma coisa é certa: quando essa data chegar vai haver muito choro e ranger de dentes, porque haverá demissões em profusão […] Hoje o nababesco dinheiro que a igreja injeta da Record lhe permite fazer algumas apostas mais altas, investir em novelas mais caras, dar partida em produções mais elaboradas, contratar gente de primeira linha e coisa e tal. Só que, quando esse dinheirão acabar, muitas cabeças rolarão…”, concluiu o jornalista, em tom apocalíptico.
A previsão ainda não se concretizou, e ao que parece, a Universal encontrou nas “novelas bíblicas” uma forma de usar a programação da Record em uma espécie de impulso à doutrina que a denominação adotou de alguns anos para cá, com ênfase no Antigo Testamento e uso de adereços da religião judaica, assim como a construção do multimilionário Templo de Salomão.