A atuação da bancada evangélica junto ao governo de Jair Bolsonaro (PSL) vem sendo alvo de análises e especulações desde o começo do mandato. Diante de acenos do presidente, um jornalista do Grupo Globo afirmou que o coletivo de parlamentares evangélicos não é unido.
Logo após um café da manhã oferecido pelo presidente no Palácio do Planalto aos parlamentares da bancada evangélica, o jornalista Thiago Prado, da revista Época, publicou artigo afirmando que o “protagonismo de Feliciano nos últimos meses e divergências temáticas dividem parlamentares” do grupo.
“A bancada evangélica foi unida ao Palácio do Planalto hoje para um café da manhã com Jair Bolsonaro, mas nos bastidores os parlamentares ligados ao segmento não estão tão afinados assim. O recente protagonismo do pastor Marco Feliciano (Podemos-SP), organizador do encontro, como grande interlocutor do segmento junto ao governo está longe de ser consensual”, avaliou Prado.
Recentemente, Feliciano admitiu que não descarta a possibilidade de ser candidato a vice na chapa de Bolsonaro, caso o presidente tente a reeleição em 2022. Essas afirmações não foram bem recebidas pelo pastor Silas Malafaia, que o criticou publicamente nas redes sociais.
Segundo Prado, Feliciano “passou a descartar o atual ocupante do posto, Hamilton Mourão, e dizer que necessariamente o presidente teria um evangélico no cargo na próxima eleição”.
“A dificuldade é obter um nome que una todas as correntes, como Assembleia de Deus, Universal, Batista, Quadrangular. Não vejo quem faz isso hoje melhor do que eu”, disse Feliciano à revista do Grupo Globo.
Thiago Prado afirmou, em seu artigo, que “a questão é que Feliciano não une os parlamentares evangélicos”, já que há subgrupos internos. “Embora tenha se aproximado do presidente da Bancada Evangélica, o deputado Silas Câmara (PRB), ele ainda encontra muita resistência justamente nas denominações que citou na entrevista”.
“O deputado Sóstenes Cavalcante (DEM), ligado a Malafaia, nem sequer foi ao café da manhã no Planalto”, acrescentou o jornalista, sugerindo que a postura do parlamentar seria um gesto de reprovação a Feliciano.
O atrito entre Feliciano e Malafaia não é novo: quando o deputado apresentou um pedido de impeachment do vice-presidente, general Hamilton Mourão (PRTB), o líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (ADVEC) teceu críticas ferozes ao colega assembleiano.
“Bolsonaro se equilibra entre os dois lados que não se bicam. Se por um lado abre as portas do Planalto frequentemente para Feliciano, por outro mantém conversas por Whatspp com Malafaia quase semanais. O presidente também concorda que é muito cedo para falar em 2022, mas jamais repreendeu Feliciano publicamente pelas frases”, comentou Prado.
“Embora estejam organizados como bancada e consigam apresentar demandas em conjunto […], os evangélicos divergem em muitos pontos. Ao contrário de outros anos, a corrida para ver quem comandaria a Frente Evangélica neste ano foi acirrada. Vários nomes se apresentaram e foi difícil chegar no nome de Silas Câmara para presidente. Além disso, há muitas diferenças de opinião na bancada quando o assunto é o decreto das armas do governo”, acrescentou o jornalista.
Ao final, Thiago Prado avaliou que a “relação recente de Bolsonaro com os evangélicos mantém os dois lados com um pé atrás”, uma vez que os parlamentares “não esquecem como o senador Magno Malta, fiel escudeiro durante a campanha eleitoral, deixou de ser contemplado com um espaço no governo”, enquanto que do lado de Bolsonaro, “o presidente não esquece que, até pouco tempo atrás, a Igreja Universal, Malafaia e outros líderes não acreditavam que sua candidatura seria vitoriosa”.