Um pastor assumidamente adepto do liberalismo teológico está sendo alvo de uma ação na Justiça que o afastou da liderança da Igreja Batista Praia do Canto, em Vitória (ES). A crise começou quando o pastor passou a pregar a aceitação da união de pessoas do mesmo sexo e a abertura para atuação ministerial dos mesmos.
O pastor Usiel Carneiro, presidente da Igreja Batista Praia do Canto (IBPC) desde 2013, se tornou alvo de uma queixa de um grupo de 25 membros conservadores da congregação, alguns deles fundadores da igreja. Em reação, um processo disciplinar foi aberto em 2022 contra esses membros, que terminaram expulsos.
Para reverter a decisão, os 25 membros recorreram à Convenção Batista Brasileira (CBB), acusando Usiel Carneiro de “desvios doutrinários” e alegando que o estatuto da IBPC prevê que em caso de uma divisão por motivos doutrinários entre os membros, um conselho formado por 15 pastores das igrejas pertencentes à Convenção Batista Brasileira julgaria qual dos grupos segue corretamente a doutrina batista e o vencedor ficaria com o direito ao nome da igreja e o espaço físico.
Na acusação contra o pastor Usiel feita à CBB, os 25 membros alegam que ele “estaria aceitando tais práticas (homossexualidade) e aconselhando membros de famílias tradicionais da igreja a admitirem tal prática”, acrescentando que um homem gay teria recebido autorização para cantar na igreja.
Quando Usiel e o conselho da IBPC foram informados do processo aberto na CBB, decidiram não reconhecer a legitimidade da ação. Assim, o pastor Hilquias Paim, presidente da entidade, assinou decisão revertendo a expulsão dos 25 membros e reconheceu que eles são o grupo que permanece fiel às doutrinas batistas.
A decisão da convenção contra Usiel delineou ainda que houve “quebra de preceitos doutrinários por parte do pastor da igreja e seus ensinos e práticas não estão em harmonia com os princípios emanados da DDCBB (Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira)”.
“Conforme provas testemunhais, a pregação e os ensinamentos do pastor Usiel Carneiro de Souza não mais evidenciam aquilo que creem os batistas”, acrescentou a decisão.
Apesar disso, Usiel não reconheceu a decisão da CBB e continuou liderando a IBPC, o que motivou os 25 membros a moverem uma ação judicial contra o pastor. O juiz Jaime Ferreira Abreu, da 3ª Vara Cível de Vitória, concedeu liminar na última sexta-feira, 10 de novembro, agravando as sanções de uma decisão anterior já tomada conta o pastor.
Na primeira decisão em outubro, o juiz Abreu afastava Usiel Carneiro e estipulava uma multa diária de R$ 5 mil em caso de descumprimento. Ao invés de acatar a decisão e recorrer, o pastor decidiu apenas recorrer a instância superior, o que obrigou os membros a moverem nova ação, que foi emitida ampliando a multa para R$ 10 mil diários.
Pastor admite liberalismo teológico
Em entrevista ao portal A Gazeta, o pastor Usiel Carneiro afirmou que atualmente a IBPC tem 360 membros e que sua leitura das Escrituras é mais inclusiva e moderna, o que se encaixa na definição de liberalismo teológico:
“A minha postura pastoral insere uma atitude de acolhimento e respeito com as pessoas. Eu compreendo a igreja como espaço em que toda em qualquer pessoa que nela desejar estar pode estar para receber instrução espiritual, cuidado, ensino. Porém, não é assim que esses líderes pensam”, afirmou.
Usiel também declarou ser alinhado à ideologia política de esquerda: “Não sou partidário, não sou petista, mas me alinho com a ideia de um Estado maior, que dá mais assistência ao pobre. Eu não me posiciono politicamente na igreja. Eu como cidadão me vejo livre, e a igreja abraça essa perspectiva; eu me posiciono nas redes sociais”.
Ainda segundo o pastor, ele está sendo perseguido: “Eu entendo esse processo que gerou esse concílio como um movimento politicamente articulado com o objetivo de me prejudicar, de me tirar da igreja, até porque se trata de uma igreja de muita expressão, uma igreja num bairro nobre, há interesse nisso. Talvez se eu fosse pastor de uma igreja da periferia, isso não estivesse acontecendo, mas sendo pastor de uma igreja tão visível, a minha presença incomoda”.
Em live em sua conta no Instagram no último domingo, quando foi impedido de celebrar o culto devido à decisão judicial, o pastor afirmou que acredita na Justiça: “Não se abalem, nem permitam que o ódio domine. Vamos reagir, mas no espírito do Evangelho”, declarou, dirigindo-se ao grupo que acompanhava sua transmissão.
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