O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comparou a presidente afastada Dilma Rousseff a Jesus Cristo em uma entrevista concedida para comentar as acusações contra sua sucessora e o processo de impeachment.
Para Lula, ao ir ao Senado discursar e responder as perguntas dos parlamentares que a julgarão, Dilma decidiu se “expor corajosamente” na tentativa de reverter votos de sete ou oito senadores e garantir a salvação de seu mandato.
Na entrevista à BBC, Lula disse que a ida de Dilma serviu “para que o Judas Iscariotes possa acusá-la na frente dela”, numa infeliz comparação da presidente afastada a Jesus Cristo.
“Com a situação que está hoje, o senhor se preocupa com o país no próximo ano?”, questionou a jornalista Júlia Dias Carneiro. E em sua longa resposta, o ex-presidente fez suposições de que a saída do PT do governo é sinônimo de perda de direitos trabalhistas.
“Eu me preocupo todo dia com o Brasil. Eu acho que a gente nesse instante de crise tem que pensar como sair da crise, não ficar discutindo a crise. Eu dizia, no G20 de 2009, que o problema da crise era a falta de lideranças políticas para decidir politicamente o que tinha que ser feito. E eu acho que aqui no Brasil a gente poderia ter saído da crise mais rápido. Quando você demora para tomar uma decisão, pode virar um século. Nós demoramos, o Congresso quis prejudicar a presidenta. A presidenta e o governo exageraram na política de desoneração”, introduziu Lula, num tímido e parcial mea-culpa.
O ex-presidente aprofundou sua tese de que o governo de Michel Temer (PMDB) poderá cortar direitos trabalhistas, hipótese já negada pelo presidente interino: “É uma lição. A nossa briga agora é para não permitir que os trabalhadores percam aquilo que conquistaram nos bons períodos do país. Aumento de salário, programas sociais que não permitiram que a miséria voltasse. Lamentavelmente, nós estamos com o desemprego crescendo e isso é muito ruim. O emprego é uma coisa que dá cidadania ao ser humano. O ser humano, se tem emprego, saúde e salário, ele está muito bem. Eu torço para o Brasil ficar bem em qualquer momento. Porque se o Brasil estiver mal, eu também estou mal. Se o Brasil for mal, o povo vai sofrer”, disse, omitindo as razões pelas quais o número de desempregados cresceu tanto de 2014 para cá.
Por fim, Lula expressou seu maior devaneio, ao comparar Dilma Rousseff a Jesus Cristo: “Primeiro, eu estou torcendo para […] o Congresso não afastar a Dilma. Eu tenho esperança. Eu sou um homem de muita esperança. Vai ser um momento importante, um momento histórico, porque a presidenta vai ao Senado se expor. Ela corajosamente vai se colocar diante de seus acusadores para que o Judas Iscariotes possa acusá-la na frente dela. E ela vai tentar mostrar para eles o erro que estão cometendo. Se a Dilma não conseguir convencer os 28 senadores [número de votos necessários para evitar o impeachment], ela vai estar fazendo um gesto histórico neste país. É uma mulher de coragem se expor diante de 81 senadores e ouvir de cada um, olho no olho de cada um, a acusação e poder, olho no olho, se defender. Eu quero saber como os senadores vão voltar para casa e olhar para suas mulheres, filhos, netos. Eles vão ter que reconhecer que ilegalmente eles afastaram uma pessoa eleita nesse país. E a história não julga na mesma semana. Às vezes a história demora séculos para julgar e eu trabalho com isso”, finalizou.