O pastor Marco Feliciano está sendo acusado por um jornalista e professor universitário de ter assediado moral e sexualmente uma jovem militante do Partido Social Cristão (PSC), embora a suposta vítima já tenha publicado um vídeo isentando o deputado federal das acusações.
A jovem Patrícia Lélis é o centro do misterioso caso, que vinha sendo denunciado de forma discreta pelo jornalista Leandro Mazzini, titular da Coluna Esplanada, no portal Uol. No dia 24 de julho, Mazzini publicou uma nota sem mencionar nomes afirmando que “uma jovem militante de um partido acusa de assédio sexual um importante deputado federal de São Paulo”.
Após a publicação dessa nota, a divulgação de informações sobre o caso ficou suspensa até a manhã da última terça-feira, 02 de agosto, quando o jornalista e professor da Universidade de Brasília Hugo Studart publicou um post no Facebook a acusação contra o pastor Marco Feliciano.
No post – que foi apagado – Studart alega que a jovem Patrícia Lélis, 22 anos, foi sua aluna e entrou em contato com ele pedindo ajuda: “Ela me telefonou informando que está bem, fora de Brasília, ao lado do pai, namorado e irmão. Me pediu muito que a postagem fosse retirada do ar, uma vez que a questão foi resolvida. Respondi que estava preocupado, indignado, e ainda estou, mas ela prefere esquecer o assunto e não polemizar. Meu primeiro ímpeto era o de atender sua vontade e retirar a postagem do ar. Contudo, ela postou um vídeo no YouTube me desmentindo, dizendo que inventei a história. […] Se apago, podem pensar cedendo a pressões. Ademais, reparem nos hematomas no olho da garota. Não estou convencido de que ela esteja em segurança”, escreveu.
Horas depois, Studart voltou ao Facebook para denunciar que a postagem original, onde acusava Feliciano de tentativa de estupro, havia “desaparecido” de sua página: “Acaba de desaparecer do Facebook meu post relatando a polêmica história de assédio moral entre deputado Feliciano e uma ex-aluna minha. Mas não fui eu quem o retirou. Tinha, entre os comentários, uma mensagem de um elemento instigando os evangélicos a denunciarem o post até derrubar. Aviso: a menina ligou pedindo para eu retirar; Gravou um vídeo dizendo que inventei a história e que o Feliciano é um amor de pessoa; Nesse vídeo, ela aparece com hematomas no olho. Optei por manter o post no ar, que caiu por alguma razão que ainda não sei”, afirmou o professor.
Negativas
A jovem Patrícia Lélis usou seu canal no YouTube para publicar um vídeo com a sua versão da história, negando que tenha tido qualquer problema com Feliciano. O vídeo original, no entanto, foi colocado como privado horas depois de ter sido colocado no ar.
Como já haviam sido feitas cópias da declaração de Patrícia, o vídeo pode ser encontrado em diversos canais do YouTube e também em páginas do Facebook.
“Hugo Studart publicou uma matéria falando do pastor Marco Feliciano, onde ele colocou as minhas iniciais, PL, de Patrícia Lélis – eu nem sei se ele quis fazer referência diretamente a mim – e várias pessoas vieram me procurar devido a isso. No post, ele também citou várias pessoas do meu convívio, que trabalham comigo, colocou o nome também de pessoas que a gente sequer tem o contato direto. E ele faz uma acusação horrorosa ao pastor Marco Feliciano. Eu queria deixar registrado que o pastor Marco Feliciano é uma pessoa muito bacana, nunca tive o menor problema com ele – muito pelo contrário, é um homem muito abençoado que sempre me ajudou em momentos difíceis, sempre aconselhou. Nunca tive nenhum problema com o pastor Marco Feliciano, e que isso que o professor e jornalista Hugo Studart postou é uma mentira”, disse a jovem.
“Ele deveria tomar cuidado, porque está envolvendo o nome de outras pessoas, e ele não tem prova de nada, é realmente mentira. E para todo mundo que está me procurando por conta das iniciais, Patrícia Lélis, realmente essa história não confere e não existe. Por favor, não propaguem mentiras”, acrescentou.
Provas?
O jornalista Leandro Mazzini, ao tomar conhecimento das acusações feitas por Studart e do desmentido da jovem, publicou uma longa matéria afirmando que esteve em contato com Patrícia Lélis, acompanhado de seu advogado, para esclarecer os fatos antes dos nomes serem tornados públicos pelo professor.
“O roteiro é um script instigador para uma investigação das Polícias Civil e Federal, pelo personagem envolvido […] Uma jovem estudante de Brasília, de 22 anos, militante da Juventude do PSC, acusa o deputado federal Pastor Feliciano (PSC-SP) de assédio sexual, agressão grave e tentativa de estupro. E entregou ao repórter há dias o que aponta como provas da tentativa”, escreveu Mazzini.
No corpo da matéria, o jornalista do Uol publicou prints dos diálogos que supostamente incriminariam Marco Feliciano, mas como não é possível ver o número do envio das mensagens, apenas o nome do contato, não há como garantir que a conversa tenha acontecido realmente entre o pastor e a jovem.
“Acompanhado do advogado da Coluna, o repórter se encontrou com ela numa cafeteria no Sudoeste, na última quinta-feira à tarde, e ouviu o seguinte relato abaixo. O assessor do PRB Emerson Biazon, que veio de São Paulo para orientá-la, foi testemunha. Youtuber e famosa na internet (tinha uma página no Facebook com mais de 200 mil seguidores, segundo conta, e que misteriosamente foi ‘derrubada’ do ar), cristã e frequentadora da mesma igreja de Feliciano, ela viu o deputado-pastor se aproximar muito intimamente nos últimos meses. Passaram a ser amigos quando ele propôs ser seu guia espiritual”, introduziu Mazzini.
No relato feito pelo jornalista sobre a suposta conversa mantida com Patrícia Lélis, ele conta que ouviu dela que a agressão teria ocorrido no apartamento funcional de Feliciano, na quadra 302 Norte de Brasília.
“Era manhã da quarta-feira dia 15 de junho em Brasília quando uma desconhecida tocou insistentemente a campainha da sala até ser atendida pelo inquilino, esbaforido e tenso. A estranha disse que ouvira gritos e perguntou se estava tudo bem; ele acenou que sim, e ela errara a porta. O engano, porém, foi pertinente. A vítima relata que era agredida e gritava por socorro – e se salvou de sexo à força. O agressor era, segundo ela, o deputado federal Marco Feliciano, pastor evangélico e propagandeado como um dos bastiões da moralidade familiar. ‘Você está gritando muito! Vai embora!’, teria dito Feliciano. Até o som da campainha, Feliciano a agredira com um soco na boca e puxões pelo braço para sua suíte, relata a jovem. Após ver negada a proposta de ela ser sua amante com alto salário e cargo comissionado no PSC, ele passou a agredi-la fisicamente. Tentou beijá-la após o soco, os lábios sangravam. Deixou-se arrastar para o quarto dele, segundo narra, com o medo de a situação piorar e por temer por sua vida, mas continuou lutando por sua dignidade, até a desconhecida aparecer na porta errada”, publicou Mazzini.
A jovem, de acordo com o jornalista, teria dito que estranhou o comportamento do pastor: “‘Ele estava diferente, com os olhos vermelhos. Ele queria que eu terminasse com meu namorado e ficasse com ele’, explica a jovem”.
Segundo Mazzini, durante sua apuração da história, chegou a considerar que “poderia ser invenção de uma garota que tenta fama na internet com o caso”, mas que as supostas “transcrições entregues por ela” o fizeram levar a história adiante.
A jovem teria alegado que o assédio vinha acontecendo há semanas, e que quando eles se encontravam, o pastor a fazia apagar as mensagens trocadas entre eles. De acordo com o relato de Mazzini, a jovem teria dito que após apaga-las para satisfazer a ânsia de Feliciano, teria conseguido recuperá-las pelo iCloud, serviço de back-up da Apple, fabricante do iPhone.
Depois do suposto encontro no apartamento funcional do pastor, quando ela teria escapado de um estupro, ela voltou a procurá-lo pelo WhatsApp, para entender o que havia se passado:
Mazzini publicou as imagens acima e disse que “vale ressaltar, dois funcionários do PSC confirmaram que o número do celular era o pessoal usado pelo pastor-deputado, que trocou de telefone há dias”.
Em outro momento, de acordo com a matéria de Mazzini, Feliciano teria provocado Patrícia sobre o episódio:
Trama
“Desde que decidiu denunciar o caso – nas trocas de mensagens com este repórter ela disse em momentos seguidos que não recuaria – a jovem se viu cercada pelas mais diversas pessoas com interesses não muito claros. Ela procurou ajuda com importantes nomes do PSC, os quais a mandaram ‘sumir’, segundo conta. Até o caso chegar à Coluna, através de um amigo ex-professor”, escreveu Mazzini, possivelmente fazendo referência a Hugo Studart.
“Nos últimos cinco dias, os mais estranhos acontecimentos cercaram o cotidiano da jovem, que foi relatando tudo para este repórter pelo aplicativo: um homem do Rio ligou para ela, ciente da história, se apresentando como agente da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) e perguntando quem a estava ajudando. Foi desmascarado quando a Coluna consultou a associação de servidores da Agência. Seu número de celular e seu nome – que por ora será preservado – estão nas mãos das autoridades”, acrescentou o jornalista do Uol.
Mazzini, em sua matéria, desconfia do fato de que a página de Patrícia Lélis no Facebook “foi retirada do ar repentinamente”, e afirma que “ela teria recebido um alerta de assessores de Feliciano”.
“Na quinta-feira, surgiu em Brasília Emerson Biazon, que a convenceu a não fazer boletim de ocorrência na Polícia, com a justificativa de querer protegê-la. O advogado da Coluna foi testemunha”, sustenta Mazzini. “A menina saiu de Brasília no sábado, e disse que precisava de um tempo, mas há informações de que ela continua assessorada por Biazon, que não deu mais notícias nos telefones que deixou com a Coluna, apesar das tentativas de contato nos últimos dois dias. A jovem sumiu do radar de sábado até a madrugada desta terça, quando contatou o repórter e disse que estava bem – ela só retornou às ligações após coincidentemente o repórter procurar o assessor de Marco Feliciano ontem à noite”, pontuou.
Mazzini afirma ainda que a atitude de Patrícia em tornar privado o vídeo que desmente as acusações feitas a Feliciano se deu após ele confrontá-la a respeito da história e das trocas de mensagens entre ambos, com envio de prints e detalhes do caso.
“Confrontada pela Coluna diante de todo o histórico de mensagens trocadas com o repórter, e de testemunhas no encontro no café, e das evidências de provas passadas por ela à Coluna, a garota retirou o vídeo do ar – curiosamente, no Facebook do professor [Hugo Studart], aparece Biazon provocando o mesmo (Biazon se diz assessor do PRB. O partido ganhou o apoio do PSC de Feliciano na candidatura de Celso Russomanno na disputa pela prefeitura de São Paulo)”, escreveu Mazzini.
Feliciano
Talma Bauer, delegado civil licenciado de São Paulo e assessor de Feliciano, afirmou a Mazzini que “não conhece a garota”, e que o pastor não tinha espaço na agenda disponível para a conversa com o repórter sobre o caso.
Em nota oficial, o pastor negou as alegações feitas contra ele: “Informo que desconheço tais acusações e as referidas mensagens postadas. Conheço a jovem por meio de sua participação no PSC, é uma grande lutadora contra o aborto e a favor das causas sociais. A conheço da mesma forma que conheço tantos outros jovens ao meu redor […] Tenho uma honra ilibada e tais acusações são descabidas. Respeito minha família, o povo brasileiro e principalmente minha fé! E peço que assim o façam! Assim eu encerro tal assunto, deixando nas mãos das autoridades”.
Atualização às 15:51 de 03/08/2016
A suposta vítima publicou mais um vídeo desmentindo o caso: