A perseguição religiosa a cristãos e judeus ocorre em todo o mundo, em diversas áreas, incluindo na cultura popular, mesmo em países que se orgulham da liberdade. A Marvel, editora de histórias em quadrinhos, foi o centro de um episódio de intolerância recentemente.
A Casa das Ideias, como é conhecida a editora norte-americana, publicou de forma disfarçada uma história em quadrinhos na revista X-Men Gold #1, citações do Corão que são consideradas odiosas a cristãos e judeus.
A mensagem de intolerância surgiu disfarçada nas revistas pelas mãos do ilustrador Ardian Syaf, um indonésio que trabalha para a empresa. As duas citações ao livro sagrado do islamismo vieram em forma de números que, a princípio, não teriam maior importância para o leitor.
Syaf colocou a referência QS 5:51 na camiseta do personagem mutante russo Colossus. No corão, esse número representa uma surata que diz: “Ó fiéis, não tomeis por amigos os judeus nem os cristãos; que sejam amigos entre si. Porém, quem dentre vós os tomar por amigos, certamente será um deles; e Alá não encaminha os iníquos”.
Na cena em que Colossus aparece com a camiseta que carrega os dizeres do Corão, o russo interage com seu melhor amigo, Noturno, que é personagem fervoroso em sua fé cristã.
Na outra referência, Syaf colocou o número 212 como numeração de um estabelecimento que funciona como pano de fundo para a cena em que a mutante Kitty Pryde, personagem de origem judaica, faz um breve discurso. O número 212 é uma referência ao protesto de muçulmanos contra o governo cristão de Jakarta, na Indonésia, ocorrido 2 de dezembro de 2016 (2/12).
O escritor de X-Men Gold #1, é o judeu Marc Guggenheim. A Marvel tomou conhecimento das citações de intolerância em seus quadrinhos depois que fãs do desenhista na Indonésia passaram a discutir o que seriam os números apresentados na revista.
O caso repercutiu, leitores de vários lugares do mundo passaram a publicar sobre o assunto nas redes sociais, com críticas severas, e a Casa das Ideias resolveu emitir um comunicado dizendo que aplicaria “ações disciplinares” ao desenhista.
“A arte mencionada em X-Men Gold #1 foi inserida sem que se soubesse do significado por trás dela. Essa referência não reflete os pontos de vista do escritor, editor ou qualquer um na Marvel e vão à direção oposta à mensagem de inclusão da Marvel Comics e ao que os X-Men lutam desde sua criação. A arte será retirada de impressões subsequentes, versões digitais e encadernados e ações disciplinares serão tomadas”, anunciou a editora, em comunicado oficial.
O desenhista indonésio admitiu que tinha colocado as mensagens, mas disse que foi mal interpretado, pois não odeia cristãos e judeus, e pediu desculpas, de acordo com informações da Sky News.
“Minha carreira está acabada. É uma consequência do que eu fiz e eu a aceito. Por favor, sem mais zombarias, debates ou ódio. Espero que todos estejam em paz. Nessa última chance, quero falar a vocês o verdadeiro significado por trás do QS5:51 e do 212. É o número da justiça. E o número do amor. Meu amor ao Corão, ao último profeta, ao mensageiro e a Alá, o Único Deus. Perdão pelo alarde. Adeus e que Deus abençoe a todos. Amo a todos”, finalizou.
É provável que ele não volte a trabalhar para a Marvel novamente. A editora tem como um de seus principais artistas criadores de personagens o judeu Stan Lee, que junto com Jack Kirby criou os X-Men.