Um ginecologista cristão que dedicou sua carreira a cuidar de vítimas de estupro na República Democrática do Congo recebeu o Prêmio Nobel da Paz de 2018. Denis Mukwege, apelidado de ‘Dr. Milagre’ por seus procedimentos especializados, dividiu a homenagem com Nadia Murad, uma ativista yazidi que sobreviveu ao estupro e sequestro pelo Estado Islâmico no Iraque.
O comitê do Nobel disse que os dois vencedores modelaram “esforços para acabar com o uso da violência sexual como arma de guerra”. Nos últimos 20 anos, Mukwege tratou dezenas de milhares de mulheres no Hospital Panzi em Bukavu, muitas das quais foram estupradas por militantes em meio ao conflito no país, ficaram com cicatrizes e foram estigmatizadas.
De acordo com informações da revista Christianity Today, a fé do ‘Dr. Milagre’ influencia sua abordagem de cuidar holisticamente dos pacientes, “não apenas para tratar as mulheres – seu corpo, [mas] também para lutar por si mesmas, para torná-las autônomas e, é claro, para apoiá-las psicologicamente. E tudo isso é um processo de cura para que as mulheres possam recuperar sua dignidade”, declarou o médico cristão.
Mukwege é filho de um pastor pentecostal e foi inspirado a buscar medicina depois de viajar com o pai para orar pelos doentes. O Hospital Panzi, fundado em 1999, é administrado pelas Igrejas Pentecostais na África Central (CEPAC).
Se os cristãos não vivem as implicações práticas de sua fé entre suas comunidades e vizinhos, “nós não podemos cumprir a missão que nos foi confiada por Cristo”, disse ele em uma palestra para a Federação Luterana Mundial no ano passado.
Além disso, o médico de 63 anos defende a compreensão cristã de homens e mulheres como iguais em dignidade diante de Deus. Ele usa um botton em seu jaleco que diz: “Pare de estuprar nossos maiores recursos. Poder às mulheres e meninas da República Democrática do Congo”.
“Cabe a nós, herdeiros de Martinho Lutero, através da Palavra de Deus, exorcizar todos os demônios machistas que possuem o mundo, para que as mulheres vítimas da barbárie masculina possam experimentar o reino de Deus em suas vidas”, disse Mukwege.
Grupos cristãos uniram-se ao lado da cruzada de Mukwege contra a violência sexual e de gênero no Congo, onde a violência ameaça a população há décadas, com registros de que 3,9 milhões foram mortos e mais de 40 mil foram estupradas na década desde que os combates começaram em 1996.
“O incrível trabalho do Dr. Mukwege com sobreviventes de violência sexual e de gênero na República Democrática do Congo me inspira, e muitos de nós”, disse Rick Santos, presidente e CEO da organização cristã sem fins lucrativos IMA World Health, em um comunicado na sexta-feira. “Estamos honrados em chamar a ele e ao Hospital Panzi de parceiros no esforço para erradicar a violência sexual em um lugar onde ela é tão difundida”.
O estupro violento deixou milhares de mulheres congolesas com consequências físicas de longo prazo, incluindo a fístula, que leva à incontinência e à infecção, bem como lesões que complicam o parto.
Outrora o único médico da província a tratar essas mulheres, ele se tornou “provavelmente o maior especialista mundial em reparos de ferimentos por estupro”. O hospital pentecostal também oferece terapia aos pacientes, assistência jurídica, recursos da comunidade e ajuda para sua reintegração em sua comunidade.
Mukwege desafiou companheiros cristãos a considerar “a credibilidade do Evangelho no século 21, para liberar a graça que recebemos ao fazer da igreja uma luz que ainda brilha neste mundo de trevas através de nossas lutas por justiça, verdade, lei, liberdade; em suma, a dignidade do homem e da mulher”.