Um homem que se apresenta como médium espírita se tornou réu por crimes de violação sexual mediante fraude e estelionato. A denúncia contra Maury Rodrigues da Cruz foi feita pelo Ministério Público do Paraná.
Cruz é diretor presidente da Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas (SBEE), sediada em Curitiba, além de professor universitário e ex-diretor do Museu Paranaense. O caso corre em segredo de Justiça.
“Aproveitando-se da fé espírita de que a vítima é portadora e plenamente ciente de que ela o considerava um líder religioso, o denunciado logrou êxito, obtendo a supracitada vantagem patrimonial indevida”, diz trecho da denúncia feita pelo MP.
Uma das três vítimas citadas na denúncia contra o médium é o engenheiro eletrônico Fernando da Costa Frazão, que frequentou o local das reuniões por cerca de dois anos e alegou que Maury Rodrigues da Cruz se aproveitava da fé das pessoas que procuravam a SBEE para ganhar confiança e cometer a violação sexual.
De acordo com o portal G1, Frazão disse que durante as sessões de ectoplasmia – momento que supostamente os espíritos se manifestam em uma pessoa viva – o médium simulava ter “incorporado” um espírito que teria tido uma relação íntima com a pessoa que participava da sessão e tirava vantagem disso.
“As sessões acontecem na madrugada e, algumas vezes, a gente se vê sozinho com o professor Maury. Nessas conversas, ele acaba te envolvendo, dizendo que você é especial […], e com o passar do tempo essa intimidade começa a ser maior e ele vai querendo beijar, forçar um beijo, e isso acaba sendo um pouco estranho”, contou o engenheiro.
Frazão afirmou ainda que não entendia exatamente o que ocorria na época em que se consultava com o médium: “Até que, no final de 2017, ele me convidou para morar com ele. Pra mim, depois disso, ficou comprovado que era uma fraude e que toda a intenção dele era o abuso sexual”, contou a vítima.
Além das três pessoas citadas na denúncia, ao menos outras 20 fizeram relatos aos promotores do MP que comandam as investigações do caso. Um empresário, que preferiu não se identificar, relatou ter passado por uma situação um pouco mais grave, pois o médiu pediu que ele colocasse a mão na parte do “baixo ventre”.
“Pra mim, baixo ventre seria a parte debaixo do abdômem. Aí, eu coloquei a minha mão mais ou menos embaixo do umbigo dele, e ele pegou a minha mão e colocou um pouco mais pra baixo. Eu fiquei assustado e sem saber o que tinha acontecido. Aí tirei a mão dali meio que reagindo e ele começou a fazer um teatro de como se estivesse passando muito mal”, contou.
Posteriormente, o empresário ouviu relatos de situações desconfortáveis de outras pessoas, o que o fez ficar alerta: “Hoje eu percebo que cada um tinha uma pecinha do quebra-cabeças, mas ninguém conseguia juntar. Que era esse psicopata que está aí e que fazia o bem de fechada e por trás fazia o mal”, indignou-se.
Meses atrás, logo após ser alvo das primeiras denúncias, o médium publicou um vídeo na página da sociedade espírita. “Acredito que os irmãos me conhecem. Não preciso me defender, mas tenho que dizer aos irmãos que tomarei todas as medidas necessárias judiciais para que essas pessoas, realmente irmãos nossos, possam responder essas agressões, essas violações do Direito”, argumentou.
Agora, a Justiça concedeu dez dias de prazo para que os advogados do médium preparem sua defesa prévia.