O grupo rebelde que tomou o controle das filiais da Igreja Universal do Reino de Deus em Angola acusa os líderes brasileiros da instituição de retirarem, ilegalmente, US$ 120 milhões anualmente do país. Na cotação atual, essa soma ultrapassa R$ 620 milhões.
“A imagem para representar o que acontecia em Angola era a de um saco sem fundo: tudo o que entrava saía”, afirmou o ex-pastor angolano Armando Tavares.
Um dos principais acusados pela suposta evasão de divisas é o pastor e ex-diretor da Record África, Fernando Henriques Teixeira. Ele teria chegado a Angola há onze anos, quando teria iniciado a operação de remessa dos dízimos e ofertas.
De acordo com os rebeldes, a direção da Igreja Universal se organizava para fazer a remessa de US$ 30 milhões a cada três meses, valendo-se de um engenhoso esquema logístico. O grupo acusador, no entanto, já admitiu fraudes em documentos para retirar a liderança brasileira do controle da instituição.
Os acusadores afirmam que a maior parte das remessas ilegais de dinheiro ilegal era feita através de viagens de carro para Johannesburgo, na África do Sul, cruzando estradas da Namíbia. Os dólares seriam transportados escondidos em malas, no forro dos veículos e até em pneus.
Em seguida, Teixeira viajava de avião para a África do Sul, se hospedava em um hotel e a partir daí, segundo os acusadores, recolhia o dinheiro para repassar ao líder da Universal no país, o bispo brasileiro Marcelo Pires.
De Johannesburgo, os valores eram levados para Portugal e o próprio fundador da instituição, bispo Edir Macedo, teria sido responsável pelo transporte no trajeto em muitas ocasiões, em seu jato particular.
O bispo costumava fazer o trajeto sempre que a Fogueira Santa era finalizada. A campanha é um evento conhecido da instituição e representa um dos momentos de maior arrecadação de ofertas dos frequentadores.
Teixeira se tornou réu na Justiça de Angola ao lado do líder da instituição no país, bispo Honorilton Gonçalves, ex-vice-presidente da RecordTV no Brasil. Ambos responderão por lavagem de dinheiro e associação criminosa. Outros dois brasileiros, o pastor Valdir de Sousa dos Santos e o bispo angolano Antônio Pedro Correia da Silva, também serão julgados.
Universal nega
A assessoria de imprensa da Igreja Universal no Brasil afirmou, em nota ao Uol, que o cenário descrito pelos sacerdotes rebeldes em Angola representa, na verdade, um risco real à liberdade religiosa no país africano.
Já o mesmo departamento da Universal em Angola emitiu nota negando as acusações feitas contra as lideranças da instituição: “É totalmente falsa esta questão. É totalmente sem fundamento”.
“Isto é uma versão levantada por estes ex-pastores e pastores de dissidências com o objetivo de tomar a igreja. Eles criaram a sua versão a fim de tomar a igreja, uma vez que é um crime. Todas as ofertas da igreja são totalmente declaradas aqui para o Estado e a esta versão que os dissidentes levantaram é totalmente infundada”, resumiu.