O novo ministro da saúde, Ricardo Barros (PP-PR), afirmou que quer reabrir as discussões sobre a legalização do aborto no Brasil, pois dados do governo apontariam para 1,5 milhão de casos por ano, a ampla maioria realizados em clínicas clandestinas, deixando sequelas e até causando mortes. Para que o tema seja tratado de forma ampla, diz que quer ouvir a postura das igrejas Católica e evangélicas.
A ideia de Barros – que é deputado federal licenciado – é que o assunto seja resolvido a partir de um consenso com toda a sociedade, por isso fez a proposta de ouvir as igrejas, frontalmente contrárias à legalização do aborto.
“Esse é um tema delicado. Recebi a informação de que é feito 1,5 milhão de abortos por ano. Desse total, 250 mil mulheres ficam com alguma sequela e 11 mil vão a óbito. Esse é um tema que vou estudar com muito carinho com nossa equipe. Vou ver com o governo qual será nossa diretriz para agir nessa direção. Essa é uma decisão de governo. Não de um ministério, algo que possa ser decidido individualmente”, afirmou Barros, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.
Segundo o ministro, “ a maneira como vamos abordar isso vai depender de discussões”, pois existe grande complexidade no assunto. “Vamos ter de conversar com a Igreja. A decisão do ministério não deve provocar resistência ou discussão. Temos de ajustar. Antes de propor uma política para isso, vamos ter de realizar um diálogo muito amplo”, reconheceu, adotando postura diferente do governo anterior, que promovia ações na direção da legalização do aborto de forma indireta, ignorando a oposição ao tema.
“Vou ouvir o máximo que eu puder para que toda ação do ministério seja um pacto, não apenas uma proposta. Vou propor algo que quem está lá na ponta vai praticar. Para não ficar uma coisa como o ministro sugere e depois provoca discussão, não é feito. Vou combinar especialmente com prefeitos. Visitarei todos os Estados”, acrescentou.
Sobre a questão da saúde pública como um todo, o ministro disse que hoje, devido à crise, há “dificuldade de financiamento”, e que será necessário elencar prioridades: “Vou ouvir os prefeitos, temos de fazer uma articulação ampla. E fazer algo que possa alcançar o maior número de pessoas. Vou tratar gestão, governança, prevenção e informação. A prioridade hoje é informação. Quero ter a capacidade de saber como cada real do SUS é gasto, online”, propôs.
Uma promessa antiga, com pelo menos 15 anos, está na lista de prioridades do novo ministro: o Cartão SUS. Para isso, é preciso descobrir os problemas que inviabilizaram a ideia até hoje. “Os recursos disponíveis no DataSus deverão ser redirecionados para essa tarefa. Se conseguir informatizar toda estrutura do SUS saberei como cada cidadão é atendido. Resolveremos o problema dos cartões duplicados. Hoje existem cerca de 300 milhões, número muito acima da nossa população. O sistema já foi implementado, mas precisa ser aprimorado para que duplicações desapareçam. É o mesmo problema da Cédula de Identidade, que pode ser feita em 27 Estados”, concluiu.