A sociedade brasileira vivencia a expansão do número de fiéis evangélicos, e essa mudança expressiva nos últimos 13 anos atinge também o mercado de consumo, com especial atenção para o setor de vestuário.
A chamada moda gospel movimenta R$ 15 bilhões anualmente, num mercado que há fiéis ávidos por consumir, e empresários igualmente interessados em lucrar. Segundo o jornal O Dia, um estudo revelou que há evangélicas gastando até R$ 6 mil por mês na compra de roupas e sapatos.
Tal disposição pelo consumo de moda contrasta com a pecha que os evangélicos carregavam nos idos dos anos 70 e 80, quando ser crente era sinônimo de andar mal vestido. “A mulher de verdade cuida bem da aparência e dos que dela dependem”, afirmou a blogueira Mari Raugust, parafraseando uma passagem do livro de Provérbios. “Que Deus ponha em nossos corações a vontade de sermos fiéis a Ele e que possamos dar bom testemunho através do nosso vestir”, acrescentou.
A cantora Pamela, que tem em seu guarda-roupas inúmeras peças de marcas de roupa, diz que no mundo evangélico, as curvas da mulher não devem ser valorizadas: “Não uso roupas curtas e provocantes. As meninas da Igreja se inspiram em mim”, diz.
Ela própria é um exemplo de quanto as fiéis podem consumir se estiverem determinadas a isso: “Uma vez, gostei de uma bolsa da Dior, mas a vendedora disse que custava R$ 5 mil e tinha que ser à vista. Minha tia, que estava comigo, pediu duas e pagamos no ato”, revela Pamela.
A cantora Liz Lanne abandonou a carreira artística e se tornou empresária, dedicando seu tempo ao mercado sempre aquecido de moda gospel: “Antes, as pessoas tinham vergonha de ser evangélicas. A imagem era a pior possível. Hoje, é sinal de status”, comenta.
Dona de uma butique no Recreio, bairro nobre do Rio de Janeiro, Liz Lanne explica que nem todas as tendências de moda são bem aceitas no meio evangélico: “Não é colocar tudo justo, transparente e curto. Fica demais. A Igreja só quer que a gente esteja decentemente vestida. Não tem que ser feia só porque é crente. Temos o direito de sermos lindas e de usar as melhores roupas”, observa.
No entanto, a blogueira Maanuh Scotá, demonstra não concordar completamente com o pensamento de Liz Lanne: “A pessoa tem que se sentir bem. Se a Igreja proíbe o que você gosta de usar, vá para outra”, sugere.
Voltada ao público adolescente, Maanuh, 25 anos, casada e sem filhos, é lida por 270 mil internautas mensalmente. “Elas se identificam muito com o meu perfil: bonita sem ser vulgar”, afirma a blogueira, membro da Igreja Maranata na Bahia, e que enfrenta o crivo do marido quanto ao tamanho de algumas peças: “Quando está muito curta ele pede para trocar. O jeito é usar com meia por baixo, que fica legal”.
Embora a parte mais expressiva do mercado de consumo de moda entre evangélicos seja voltado às mulheres, os homens também se tornaram alvo de blogueiros que dão dicas para a composição do guarda-roupa. “Nada de camisas muito coloridas, gravatas estampadas demais. Nada como um pretinho básico ou um tom de cinza para dar seriedade à composição”, sugere o autor do blog Essas e Outras.
A tendência, com as projeções de contínuo crescimento da parcela da população que se declara evangélica, é que este mercado se torne cada vez maior e com cifras ainda mais chamativas.