A atual procuradora-geral da República, Raquel Dodge, tem mandato à frente do órgão até setembro de 2019, quando completará dois anos no cargo após ser nomeada pelo presidente Michel Temer (MDB). Com o novo governo liderado por Jair Bolsonaro (PSL), é provável que uma troca no comando da PGR aconteça, e o futuro ministro da Justiça, Sérgio Moro, já teria o nome de um jurista para sugerir ao presidente eleito.
Circula nos bastidores do Ministério Público que o presidente Bolsonaro não pretende reconduzir Raquel Dodge para mais dois anos de mandato na PGR, e dessa forma, o nome mais forte que vem sendo aventado é o do procurador Deltan Dallagnol, líder do MP na força-tarefa da Operação Lava-Jato. Evangélico, ele atuou de forma muito próxima de Moro durante os processos que condenaram implicados no petrolão, incluindo o ex-presidente Lula (PT).
“O candidato do coração de Moro à sucessão de Raquel Dodge na PGR é mesmo Deltan Dallagnol”, informou o jornalista Mauricio Lima na coluna Radar Online, da revista Veja.
Desde a campanha eleitoral, Bolsonaro deu indicações que faria uma substituição da chefia da Procuradoria Geral da República. Raquel Dodge foi a procuradora responsável por denunciar o presidente eleito por racismo em abril deste ano, após declarações feitas durante uma palestra no Clube Hebraica, no Rio de Janeiro.
No Supremo Tribunal Federal, a Dodge afirmou que “Jair Bolsonaro tratou com total menosprezo os integrantes de comunidades quilombolas. Referiu-se a eles como se fossem animais, ao utilizar a palavra arroba”, disse. No entanto, os ministros entenderam que o capitão do Exército não agiu de forma preconceituosa, e encerraram a ação absolvendo-o.
Dallagnol
Não é exagerado considerar o procurador que vem sendo cotado para assumir a Procuradoria Geral da República em setembro de 2019 como o jurista evangélico mais conhecido do país. Ele liderou a parte investigativa da Operação Lava-Jato e foi alvo de críticas do ex-presidente Lula, que chegou a menosprezar sua confissão de fé.
Num evento em Curitiba (PR), Lula – visivelmente embriagado – zombou de Dallagnol e outros colegas da força-tarefa que são evangélicos. Num discurso de improviso, feito com um copo de bebida na mão, Lula disse que eles sentiam-se “ungidos por Deus para salvar o mundo” e ainda expressou condescendência com o crime, desde que a transgressão não causasse prejuízos imediatos aos empregos dos brasileiros.
“[O que não dá] é você ter em Curitiba, sabe, um agrupamento especial de pessoas ungidas por Deus para salvar o mundo. Eles têm noção de quanto a Operação Lava-Jato já causou de prejuízo à economia desse país, ao PIB desse país? Eles têm noção de quanto desemprego já causou?”, questionou. “O Ministério Público virou, então, um bando de ungidos que vão salvar a humanidade”, criticou, balbuciando as palavras em clara embriaguez.
Alheio a tudo isso, Deltan Dallagnol dedicou-se a viajar pelo Brasil para divulgar o trabalho da Operação Lava-Jato em palestras, com o intuito de incentivar as pessoas a abraçarem o combate à corrupção. “Vivemos uma janela de oportunidade, o caso Lava-Jato deixou a sociedade altamente sensível e esperançosa de mudanças”, pontuou o procurador em um evento na Primeira Igreja Batista de Curitiba.
Dallagnol acredita que o combate à corrupção – crime visto por muitos pensadores modernos como “hediondo” – “é uma questão de amor ao próximo, de serviço à sociedade”, pois garante que tudo que o governo arrecade seja usado de forma justa e eficiente, resultando numa melhora da qualidade de vida da população, além de permitir um planejamento do governo para reduzir a carga tributária, a longo prazo.
Em abril deste ano, quando o STF estava prestes a julgar um pedido de habeas corpus de Lula, Dallagnol, assim como o juiz Marcelo Brêtas, usou as redes sociais para anunciar que faria jejum e oração para que a decisão dos ministros fosse contrária à defesa do ex-presidente. Em reação, deputados petistas anunciaram a intenção de processá-lo por “proselitismo político religioso nas redes sociais”.