Uma motorista evangélica que trabalha com aplicativos de transporte foi agredida por um casal que embarcou em seu carro para uma viagem e se incomodou com as músicas gospel que estavam sendo tocadas.
Mariana Domingues Fidelis, 27 anos, trabalhava na madrugada do último domingo, 27 de agosto, em Contagem (MG), quando aceitou a chamada de um casal. Após iniciar a viagem, passou a ser ofendida com frases como “crente do rabo quente” e, por isso, decidiu parar o carro antes do fim do trajeto.
Os passageiros eram o assistente fiscal Rodrigo Palhares Araujo, 27, e a microempreendedora Anna Clara Neres Silva, 21, a quem a motorista pediu que saíssem de seu carro por estarem fazendo piada com a religião dela.
“Eles estavam falando coisas como ‘crente do rabo quente’. Eu desliguei o rádio, que sempre fica bem baixo, e perguntei se estava incomodando eles”, contou Mariana, acrescentando que a partir desse momento passou a ser ainda mais ofendida por Araujo.
Um vídeo veiculado pelo portal G1 mostra o rapaz se referindo à motorista como “crente” em um tom pejorativo, seguido de palavrões e gritos. As cenas foram filmadas pela própria Mariana.
“O cara desceu e veio na minha direção, me xingando de tudo o que você pode imaginar, como se fosse me agredir, pegando no meu celular e mandando que eu cancelasse a viagem no aplicativo. Quando ele viu que eu estava filmando, disse que não iria me bater, mas continuou com os xingamentos”, contou.
Ao se afastar do carro, Mariana ficou no canteiro central da avenida para procurar alguma viatura e pedir ajuda. Nesse momento, segundo o relato da motorista evangélica Anna Clara foi até ela e passou a agredi-la, jogando-a no chão, sendo acompanhada por Araujo. Um outro homem, que viu a cena, tentou intervir para impedir a agressão.
“Esse homem se jogou sobre mim, usou o próprio corpo para me proteger, como se fosse um bolsa. Mesmo assim, o cara não parava, até que um guarda municipal da UPA chegou, apontou a arma para ele e mandou parar”, relatou a motorista evangélica.
O casal foi detido e a Polícia Civil afirmou, em nota, que eles prestaram depoimento e foram liberados após assinarem um Termo Circunstanciado de Ocorrência, comprometendo-se a participar de uma audiência na Justiça.
Já Mariana foi levada para a unidade de saúde próxima do local, onde passou por exames. Fotos feitas pela própria motorista mostram sangramentos pelo nariz e boca, além da face e do olho esquerdo inchados.
O casal nega que tenha agido com intolerância religiosa: “Eu e ele começamos a conversar dentro do carro sobre um amigo nosso que se diz cristão, mas não segue o que o cristianismo diz. Usamos a expressão ‘crente do rabo quente’ se referindo a ele. De repente, a motorista parou no meio da [avenida] João Cesar de Oliveira e mandou a gente descer. Falou que estávamos ofendendo a religião dela”, alegou Anna.
Ainda segundo a microempreendedor, as agressões teriam começado por parte de Mariana, que teria dado um tapa no celular dela quando foi filmada: “Foi nesta hora que eu e ela caímos no chão. Eu agredi ela, ela me agrediu, estou machucada na mão, nos joelhos. Ela rasgou a minha bolsa, quebrou o meu celular”.
A empresa para quem a motorista evangélica presta serviço, 99pop, disse que “repudia atos de preconceito, violência e intolerância religiosa” e que está prestando acolhimento a Mariana, e que o passageiro foi bloqueado temporariamente do aplicativo.
Enquanto isso, a motorista agora vem enfrentando outras manifestações de hostilidade: “Meu telefone não para de tocar com ameaças, o Instagram também”, lamentou Mariana.