A Igreja Universal do Reino de Deus está, novamente, sob acusações de impor cirurgias de vasectomia aos pastores da denominação, para que não possam ter filhos. Anos atrás, a igreja já foi condenada a indenizar um ex-sacerdote por conta dessa prática.
O caso mais recente denunciado ocorreu em Angola, em um movimento de contestação que corria, até então, silencioso entre pastores e obreiras que são noivos e planejam se casar. A exigência de vasectomia teria sido imposta sob a alegação de que tratava-se de uma decisão para se dedicar exclusivamente ao ministério.
O portal Jornal de Angola, que denunciou o movimento de contestação, afirma que a exigência da Universal é antibíblica, pois vai no sentido contrário à orientação de Deus em Gênesis, que determina “sejam férteis e multipliquem-se”.
As fontes da denúncia, segundo o veículo angolano, são as mães de duas noivas de pastores da denominação, revoltadas com a imposição. “Senhor jornalista, ajude-nos a publicar esta denúncia para que a nossa igreja reconsidere a sua posição”, pediu uma das sogras ao colaborador do jornal.
A fiel da igreja afirmou, ainda que um bispo em posição elevada na hierarquia da Universal “exige que se respeite à letra a decisão” nas reuniões de noivas, de pastores noivos e de “candidatas ao altar”, uma referência às obreiras que já estão preparadas para serem esposas.
“As duas senhoras bateram à porta do Jornal de Angola depois de terem conseguido convencer as filhas para a necessidade de a decisão da igreja ser tornada pública ‘para que, havendo pressão social, esta a reconsidere, por não ter respaldo na Bíblia’”, informa o portal. “A relutância das filhas em dar luz verde às mães deve-se ao receio que os noivos descubram, podendo ser motivo para o rompimento do noivado, possibilidade que as duas obreiras da igreja há anos levantam constantemente por conhecerem a fidelidade daqueles para com a Igreja Universal do Reino de Deus”, acrescenta.
Por telefone, as noivas concordaram em respaldar a declaração de suas mães, em condição de anonimato, e enviaram carta ao portal: “Nós estamos muito preocupadas e muito tristes, porque são os nossos noivos, os nossos irmãos, que nunca vão poder fazer filhos para o resto da vida, porque esta operação não tem volta”.
“Ajudem-nos com urgência, por favor”, apelam no final da carta, com a citação a um bispo que teria dito que as noivas poderiam “ir queixar-se onde quiserem, pois eu não tenho medo de ninguém”.
A decisão da Igreja Universal de impor a esterilidade foi comunicada pela primeira vez, entre setembro e outubro de 2017, por uma outra figura proeminente da igreja em Angola, que disse que “daqui para a frente, mais nenhum pastor vai casar-se sem fazer a cirurgia”.
Brasil
Em 2016, o Ministério Público do Trabalho (MPT) planejou mover uma ação civil pública contra a Igreja Universal do Reino de Deus por supostamente obrigar pastores e bispos a se submeterem a uma cirurgia de vasectomia.
A denominação fundada pelo bispo Edir Macedo já foi condenada anos atrás a indenizar um ex-pastor que teria sido forçado a fazer a cirurgia. A decisão a favor do ex-pastor foi tomada pela Quarta Turma do Tribunal Superior do Trabalho (TST), obrigando a Universal a indenizá-lo em R$ 100 mil.
No caso investigado pelo MP, a jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, revelou que a Igreja Universal do Reino de Deus estava se recusando a assinar um compromisso de interromper a suposta política interna de esterilização de seus sacerdotes, alegando que ela não existe, mas admitindo que entende que seria melhor que pastores e bispos não tenham filhos, pois eles os atrapalhariam a “propagar o Evangelho pelo mundo”.
À época, a Universal frisou que a decisão sobre filhos é de responsabilidade dos próprios pastores e bispos, e suas respectivas esposas.