A Psicologia Cristã ainda não é uma área de especialidade reconhecida no Brasil pelo Conselho Federal de Psicologia, mas já é motivo de discussão entre profissionais, como a Psicóloga Cristã Marisa Lobo, bem como na sociedade em geral, devido sua relevância na experiência humana, que tem grande parte do seu comportamento motivado por sentimentos e conceitos religiosos.
Com a nomeação (suspensa pelo STF) de Marcelo Hodge Crivella, filho do Prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, para o cargo de secretário-chefe da Casa Civil da prefeitura , o debate sobre Psicologia, Ciência e Fé, mais uma vez meio à tona, devido a Marcelo Hodge, que tem em seu currículo a formação em “Psicologia Cristã”.
Mesmo tendo sua nomeação suspensa, o Conselho Regional de Psicologia do Rio recebeu várias denúncias, supostamente, de “Psicólogos incomodados” com a formação do Crivella filho em “Psicologia cristã”. Segundo publicação no G1, o CRP emitiu uma nota informando que existe o reconhecimento “de apenas uma psicologia, que se constitui por 12 especialidades, técnicas e cientificamente validadas. ‘Psicologia cristã’ não é uma delas”.
Para o filho de Crivella, no entanto, as informações estão “equivocadas”. Isso, porque, ele se formou em Psicologia Cristã na Universidade de Biola, uma instituição centenária, privada, de orientação cristã, situada na California, EUA, com sete áreas de concentração acadêmica e cursos que vão da graduação ao doutoramento. Devido a isso, Marcelo Hodge afirmou que não há necessidade de ser reconhecido como Psicólogo no Brasil, especialmente porque sua atuação profissional nunca foi na Psicologia, mas sim como administrador de empresas.
A Psicologia Cristã fora do Brasil
A Psicologia Cristã não é novidade fora do Brasil. Nos Estados Unidos, por exemplo, de onde grande parte das orientações científicas são exportadas para o mundo inteiro, a Psicologia Cristã é reconhecida pela Associação Americana de Psicologia, a maior entidade científica dos profissionais de Psicologia naquele país.
Lá, por exemplo, existem cursos de graduação e pós graduação em Psicologia Cristã, em nível de mestrado e doutorado, sendo o aconselhamento psicológico cristão uma abordagem terapêutica como as demais especialidades em Psicologia. Uma simples consulta ao rol de membros do conselho da Associação de Psicologia Cristã americana nos dá uma ideia do imenso corpo teórico a que essa área está associada.
Para Eric L. Johnson, fundador da Sociedade para a Psicologia Cristã nos EUA, “Nos últimos 30 anos, a religião e a espiritualidade começaram a ganhar espaço no campo da psicologia por causa dos seus benefícios mentais. Existem estudos que mostram que pessoas religiosas sofrem menos de problemas como o estresse”, disse ele ainda na matéria do G1.
No entanto, o surgimento da Psicologia Cristã pode ser ainda mais antigo, se associada a figuras como o Dr. GC Dilsaver, considerado o grande pioneiro, e Dr. Clyde M. Narramore, fundador da Escola Rosemead de Psicologia em 1970, atual Universidade Biola, onde se formou Marcelo Hudge.
A Psicologia Cristã no Brasil
O termo “Psicologia Cristã” no Brasil não está associado a um tipo de abordagem terapêutica, como é nos Estados Unidos, mas sim de identificação profissional. A Psicóloga cristã Marisa Lobo é um exemplo disso. Em suas redes sociais e site profissional, a divulgação do nome “Psicóloga Cristã” tem gerado divergências com o Conselho Federal de Psicologia, que já tentou lhe cassar o registro profissional sob acusação de misturar fé com ciência.
Talvez, uma das mais notórias autoridades no campo do que pode ser chamado “Psicologia Cristã” no Brasil ou, no mínimo, do estudo entre Psicologia e religião, é o Dr. Merval Rosa, falecido em maio de 2014. Ex-professor da Universidade Federal de Pernambuco e do Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil (STBNB). Além de Mestre em Teologia pelo Southern Baptist Theological Seminary, Merval Rosa teve doutoramento em Psicologia pelo Kansas State University (USA).
Autor de várias obras de referência, entre elas “Introdução à Psicologia – Uma Perspectiva Cristã” e “Psicologia Evolutiva” (vol 1-4), também escreveu “Psicologia da Religião” (2ª ed, 1979) , de onde estacamos a seguinte justificativa para esse campo de estudo: “…a dinâmica da experiência religiosa tem aspectos universais e pode ser estudada do ponto de vista psicológico, independentemente de qualquer ideia sectária.”
Finalmente, dentro e fora do Brasil, a religião e, em especial, o sentimento religioso, sempre tiveram uma contribuição fundamental para a construção do conhecimento científico como um todo, em quase todas as áreas. Por essa razão, segundo Marisa Lobo para o G1, “o estudo da religião é importante para a psicologia por causa do seu conteúdo simbólico. Por esse motivo, o Brasil deveria reconhecer a psicologia cristã.”
Na Psicologia e Psicanálise, como outra corrente de estudo do comportamento humano, autores como Sigmund Fraud, Carl Gustav Jung, Erick Fromm, Carl Ransom Rogers, Viktor Emil Frankl, Wilhelm Reich e muitos outros além dos citados acima, tiveram estreita relação com a religião, de onde desenvolveram concepções e abordagens terapêuticas a partir de tais perspectivas. A logoterapia, bioenergética e a “psicologia transpessoal” são exemplos evidentes disso. Se a Psicologia Cristã, portanto, ainda não é reconhecida no Brasil, certamente não é por falta de embasamento teórico.