Uma recrutadora de mulheres para uma plataforma de conteúdo adulto viveu uma crise de consciência que terminou levando-a a Cristo. Agora, seu testemunho de arrependimento não só revela os bastidores dessa indústria, como também a graça salvadora.
Victoria Sinis trabalhava para o Only Fans, buscando mulheres que estivessem dispostas a vender fotos e vídeos íntimos na plataforma, e disse que num primeiro momento enxergava o trabalho de maneira ingênua, mas logo descobriu que estava sendo cúmplice de um sistema brutal.
Ela tinha experiência em marketing para estabelecer novos negócios, e foi convidada por uma amiga para abrir uma agência de recrutamento para a OnlyFans em agosto de 2022.
“Eu realmente não tinha muito conhecimento sobre o que era OnlyFans. Eu nunca tinha assistido pornô na minha vida, e mesmo agora, para muitas pessoas, ainda há um enigma em torno do OnlyFans. As pessoas pensam: ‘Ah, você pode simplesmente vender seus pés lá’ ou ‘Acho que é libertador’”, disse ela.
A partir dessa compreensão errada, ela aceitou o desafio: “Pensei ‘ok, essas garotas que estavam fazendo OnlyFans vieram de origens pobres e, na superfície, parece que elas são felizes. Parece que elas estão ganhando um bom dinheiro, então isso deve ser algo positivo’”.
Exploração
Hoje, Victoria é a fundadora da Creating Gems, uma organização que ajuda mulheres a se libertarem de expectativas sociais prejudiciais, e ela também fala sobre os perigos do OnlyFans.
Mas antes de se tornar uma defensora anti exploração sexual, seu trabalho era o oposto, porque quando uma conta atinge um certo nível de popularidade no OnlyFans, a proprietária não consegue mais atender todos os assinantes, e é aí que a agência entra.
A agência contrata prestadores de serviços para imitar a garota e conversar com os assinantes, garantindo que a conta continue a gerar dinheiro. Além de facilitar as comunicações com os assinantes, a agência garante que a garota publique conteúdo sugestivo nas redes sociais para promover sua conta OnlyFans.
Parte do trabalho de Victoria era esse, além de procurar garotas nas redes sociais para recrutá-las para a plataforma, geralmente mirando nas que publicaram fotos provocativas.
A dinâmica de competição interna é voraz, já que para manter os ganhos, uma garota que produz conteúdo precisa satisfazer a exigência dos assinantes: “E então, como uma agência, tínhamos essas coisas chamadas níveis. Quando você entrava em uma agência, nós dizíamos qual era seu padrão de base”, relembrou, referindo aos níveis 1 (biquíni), 2 (nudez implícita) e 3 (nudez completa).
Peso na consciência
Victoria acabou questionando seu trabalho e o impacto nas meninas que criavam conteúdo para a plataforma: “Isso realmente me perturbou”, disse ela, referindo-se a um recurso que permitia aos assinantes fazer solicitações personalizadas que os excitassem.
Victoria Sinis passou a ficar horrorizada com alguns pedidos para satisfazer fetiches: “Algumas pessoas podem dizer ‘Ah, isso é só uma brincadeira’, mas não. Alguém pagou um bom dinheiro, e eles ficaram sexualmente excitados por garotas pisando em balões. E foi tão específico que realmente me perturbou”.
“Em breve, o vídeo não será mais o suficiente. E eles vão realmente querer colocar alguém em perigo ou machucá-la, porque agora eles precisam representar essa fantasia, porque estamos alimentando esses pedidos doentios e distorcidos. Quando você puxa um pouco o fio e pensa na psicologia por trás disso, você pensa ‘Nossa. Isso é realmente distorcido’”, comentou.
Quando a dificuldade de trabalhar para uma agência OnlyFans cresceu, chegou a um ponto em que ela não conseguia nem abrir o laptop na maioria dos dias, e decidiu que faria ações sociais para compensar: “Pensei ‘Eu vou embora e ajudo refugiados, e então não terei mais que trabalhar para o OnlyFans’. Eu me lembrei da igreja que eu frequentava quando criança que tinha esse programa de refugiados, e eu pensei ‘Oh, legal! Eu vou me inscrever para isso, e todas as coisas vão se encaixar’”.
‘Eu sabia que Deus era real’
Quando criança, Victoria frequentava uma igreja chamada CityLife, mas a casa em que ela cresceu não era religiosa, e ela se lembrava que sua família geralmente saía cedo dos cultos e parou de frequentar os cultos quando ela tinha 10 ou 11 anos.
Nesse processo, ela relembrou de uma história que um pastor contou em um domingo para as crianças. Era a história sobre um atirador ameaçando atirar em uma mulher a menos que ela negasse Cristo. A mulher se recusou e, milagrosamente, a arma não disparou.
Victoria não sabia se a história era verdadeira, mas ela nunca a esqueceu: “Eu sempre tive essa coisa no meu coração. Nunca neguei Deus. Sempre houve aquele sentimento subjacente de ‘Eu sabia que Deus era real. Eu sabia que Deus existia’”.
Quando ela procurou a igreja de sua infância para procurar ajuda para refugiados, ela foi convidada para comparecer a um culto. Victoria chegou e a mulher que falava diante da congregação naquele dia era Melinda Tankard Reist, uma diretora de movimento do grupo anti exploração sexual Collective Shout.
A pregadora falou sobre os perigos da cultura supersexualizada de hoje e como os cristãos devem ser o “sal e a luz” enquanto estiverem na Terra, e destacou justamente os perigos que sites como OnlyFans representam.
Após a mensagem, Victoria se apresentou a Melinda, dizendo: “Eu trabalho para o OnlyFans e me odeio”. A pregadora ouviu sua história e explicou em quê ela havia se envolvido: “Ela me educou sobre a realidade do que era. E isso foi num domingo. Na sexta-feira, eu pedi demissão da agência”.
Reviravolta
Depois de deixar seu emprego na agência em julho de 2023, Victoria começou a trabalhar em um café. Com a ajuda de Melinda, ela redescobriu sua fé em Deus e passou a palestrar em escolas, compartilhando sua história.
Uma das palestras viralizou no TikTok, o que a impulsionou – depois de um tempo de jejum e oração – a criar a entidade Creating Gems, que se dedica a conscientizar jovens sobre a verdadeira face do OnlyFans e oferecer ferramentas para que elas entendam seu valor, segundo informações do portal The Christian Post.