A presença do pastor Marco Feliciano na presidência da Comissão de Direitos humanos da Câmara tem causado ainda um grande número de manifestações de repúdio. Além das manifestações vindas de diversos setores da sociedade, como os ativistas gays, muitas opiniões contrárias a Feliciano surgem também de dentro das igrejas evangélicas.
Caio Marçal, secretário de mobilização da Rede Fale, entidade que congrega 30 organizações evangélicas em 17 estados e soltou um comunicado oficial e um abaixo-assinado pedindo a destituição de Marco Feliciano, foi uma das vozes que se levantou contra o pastor de dentro da igreja evangélica. Em entrevista ao site Diário do Centro do Mundo, o líder cristão afirmou que Marco Feliciano não representa a opinião dos evangélicos brasileiros. Declarando que “os evangélicos não são todos iguais”, ele afirmou que “o discurso do ódio só interessa a quem quer espalhar temor e pânico”.
Questionado sobre a insistência de alguns pastores em pregar constantemente sobre dinheiro, Marçal afirmou ser um fixação formada por uma interpretação teológica equivocada, que foi importada dos Estados Unidos.
– A fixação pelo dinheiro tem a ver com a Teologia da Prosperidade, criada por religiosos americanos. Eles precisam ter um estilo de vida condizente com o que pregam: avião, carro importado etc. – declarou.
O pastor falou também que a imagem da igreja evangélica é também prejudicada por aquilo que é exposto na mídia, e afirma que tais informações, que são constantemente publicadas sobre líderes evangélicos, não condiz com a realidade da maioria dos cristãos brasileiros.
– Há igrejas evangélicas na periferia, na cracolândia, nas favelas. Isso não está na mídia. Boa parte do que aparece sobre os evangélicos na mídia é por causa desses caras. Dá essa ideia de que todos funcionamos da mesma forma. – explicou Marçal, que afirma que a imagem negativa que vem sendo criada em torno da igreja evangélica é culpa dos pastores que estão na mídia.
Leia a entrevista na íntegra:
Até que ponto Marco Feliciano representa o pensamento dos evangélicos?
Os evangélicos não são todos iguais. Há muitos de nós que não concordamos com a maneira como Marco Feliciano opera. Ele se utiliza de um discurso odioso e agressivo. Nós desejamos o debate, mas considerando o direito do outro a fazer suas escolhas. Eu faço parte de um grupo que crê que todo ser humano é alcançado pela graça de Deus. Por mais pecadores que sejamos, Jesus olha para as pessoas em sua essência.
Qual o papel da bancada evangélica?
Nós não precisamos da política. A igreja não precisa de defesa. Ao invés de defender os evangélicos, é melhor defender o povo como um todo. Fazer com que a sociedade não vire um terreno de discussões belicosas. A gente quer estar sintonizado com Deus e com Jesus. O Feliciano espalha o ódio. Nós não vamos ficar parados.
O Evangelho não endossa esse tipo de postura. Aprendemos a não agredir e a oferecer a outra face. Tocar os que estão à margem. Não podemos estar mancomunados com o poder ou com um projeto de poder. Nosso projeto é de serviço, de servir o outro. Não se trata de dominação e controle.
Além do mais, os interesses não estão claros. Por que esse ataque ao PT agora, se eles fazem parte da base aliada do governo? O que eles vão ganhar com isso? O discurso do ódio só interessa para quem quer semear temor e pânico. Pessoas tomadas pelo pânico não pensam direito.
Por que há pastores evangélicos que falam tanto em dinheiro?
Essa leitura teológica do Feliciano é equivocada. Pastores como ele têm uma posição privilegiada. Ele é um “homem de Deus”. A fixação pelo dinheiro tem a ver com a Teologia da Prosperidade, criada por religiosos americanos. Eles precisam ter um estilo de vida condizente com o que pregam: avião, carro importado etc.
Mas há igrejas evangélicas na periferia, na cracolândia, nas favelas. Isso não está na mídia. Boa parte do que aparece sobre os evangélicos na mídia é por causa desses caras. Dá essa ideia de que todos funcionamos da mesma forma.
O Brasil precisa tratar de forma mais responsável os direitos humanos. Temos de superar problemas com relação ao índio, à mulher, à criança. Temos membros filiados a partidos, mas fazemos questão de manter nossa isenção. Não queremos fazer parte de bancada evangélica.
Existem homossexuais na sua igreja?
Não sei se há homossexuais na minha igreja. Se tem, a gente não sabe… Mas entendemos que não se pode entrar no joguete da política do ódio e da perseguição. A perspectiva da negação do outro não pode existir. Não podemos impor uma agenda de santificação. Acredito piamente que nosso dever é fazer o bem, dar amor e pregar o evangelho.
Por Dan Martins, para o Gospel+