Um pastor que desenvolve um trabalho missionário junto a tribos indígenas está sendo investigado pelo Ministério Público Federal (MPF) por ter apresentado a mensagem do Evangelho a uma tribo e ter batizado os índios que se converteram.
O pastor Isac Santos, da Igreja Tempo de Semear, foi denunciado ao MPF pela pedagoga Juliani Caldeira, que no último dia 28 de agosto protocolou queixa após ver uma foto publicada pelo missionário no Facebook, onde os índios que foram batizados aparecem vestidos de branco.
De acordo com informações do portal da BBC, o processo de investigação está em fase de análise, e ainda não entrou em tramitação. A divulgação do trabalho missionário suscitou críticas de muitos usuários das redes sociais, e motivou a pedagoga a denunciar o pastor, por acreditar que a apresentação da fé cristã aos índios é uma violação do direito deles às crenças ancestrais.
Outro que concorda com essa visão é o antropólogo Roque Lara, estudioso que se dedica à cultura indígena e considera as incursões religiosas como uma agressão à história dos índios.
“A Constituição brasileira garante aos indígenas o direito de continuar com suas crenças e religiões. Como antropólogo, há muito tempo tenho me manifestado contra missões. É um absurdo que uma pessoa que venha de fora, que não fala a língua do grupo, queira mudar a cabeça deles e as crenças de centenas de anos”, afirmou Lara, desconsiderando que a legislação não proíbe a apresentação da fé cristã aos índios, e que o trabalho missionário também não é impositivo.
Como acontece normalmente em trabalhos missionários, o pastor Santos estabeleceu uma relação de amizade com os índios, oferecendo hospedagem a eles quando vão à cidade de Água Boa, no estado do Mato Grosso, e assim, a confiança se torna um relacionamento entre brancos e índios.
Em resposta às críticas, o pastor afirmou que as pessoas tomam conclusões precipitadas a partir de uma simples imagem: “Eles eram convertidos ao cristianismo. Ao contrário do que os ignorantes pensam, na aldeia deles possui energia e televisão. Além disso, os indígenas daquela região têm conta no banco, título de eleitor, Bolsa Família, falam português e fazem faculdade. Eles não ficam dançando ao redor do fogo o dia todo”, afirmou.
A cerimônia de batismo, segundo o pastor, foi presenciada por todos os membros da aldeia, inclusive os que decidiram não serem batizados. O encontro aconteceu às margens do rio Borecaia, na mesma cidade, com os índios cantando em seu idioma nativo.
“Se de fato são cristãos, essa decisão precisa ser selada no batismo. Segundo João Batista, isso é feito por imersão nas águas. É preciso crer para ser batizado. Só dei continuidade ao batismo quando pude testificar, de fato, que eles tinham Jesus como Salvador. Caso contrário, o procedimento deles seria inválido”, explicou o pastor sobre o batismo à reportagem da BBC.
Sobre o uso de roupas brancas, Isac Santos revelou que o uso foi voluntário da parte dos índios, que compraram por conta própria para usarem em festividades e acharam que seria adequado para a ocasião.
Ciente de que as redes sociais encorajam que as pessoas façam críticas rasas, ele se referiu às pessoas que condenaram seu trabalho como “ativistas de teclado”, e acrescentou: “Fazer dos indígenas uma bandeira de ativismo é muito bizarro. Os tratam como bichos, como se fossem incapazes. Os indígenas dizem que podem tomar suas próprias decisões. Eles escolheram a nossa fé. Parece que é crime o fato de eles terem escolhido o cristianismo”, finalizou.