O pastor Henrique Vieira, ligado ao PSOL, afirmou que é contra a presença de programas evangélicos na TV e defende a revisão da isenção tributária para igrejas.
O fundador da Igreja Batista do Caminho, que realiza cultos em Niterói e Rio de Janeiro (RJ), se define como um “defensor de causas progressistas”, evocando líderes religiosos como o o pastor Martin Luther King, dom Hélder Câmara e Francisco de Assis como inspiração.
Para ele, as atuais lideranças evangélicas são “ultraconservadoras”, com posturas “que se distanciam muito da beleza e do caráter generoso do evangelho de Jesus”. Na entrevista à jornalista Marilia Neustein, do Estadão, Vieira falou mais sobre sua atuação como um líder religioso com visão política de esquerda.
“Temos [na Igreja Batista do Caminho] um grupo de mulheres que estudam e fazem teologia feminista, e agora um grupo ao qual demos o nome de ‘Um novo homem possível, desconstruindo a masculinidade tóxica’ – sempre a partir da teologia, da Bíblia”, afirmou, exemplificando sua atuação religiosa com viés progressista.
Sobre as opiniões divergentes das que muitos pastores sustentam, Vieira afirmou que “existe um referencial evangélico hegemônico que é de fato preocupante”, já que algumas denominações se tornaram gigantescas. “Refiro-me a algumas lideranças com muito poder econômico, político e midiático. São pessoas que têm uma enorme capacidade de reverberar aquilo que dizem e acabam sendo a principal referência do que é ser evangélico”.
Para ele, esses líderes conduzem “um empreendimento empresarial de fé”, e se distanciaram do conceito de “comunidade de fé e acolhimento”. Em seguida, Vieira usa essa constatação para, ele próprio, vender a visão que mais se amolda a seus valores, acusando as igrejas evangélicas de formarem um ambiente “antidemocrático” e “hostil para mulheres, negros, fiéis das religiões de matriz africana, militantes dos direitos humanos”.
++ Henrique Vieira compara Marielle a Jesus
“Não gosto de ser colocado como um pastor exótico. […] Sou de uma linhagem comprometida com a causa da justiça social, do respeito à diversidade, do diálogo ecumênico inter-religioso, da busca pelo bem comum”, afirmou.
Sobre a imunidade tributária, Henrique Vieira acredita que há espaço para a revisão desse conceito, que foi construído a partir do direito de liberdade religiosa, previsto na Constituição e na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
“A previsão constitucional de não cobrar imposto do que não tem natureza lucrativa me parece razoável. O que algumas igrejas fazem é outra coisa. Acho que deveria haver uma auditoria sobre alguns empreendimentos de fé que operam numa lógica mais mercadológica e de lucro do que de um serviço comunitário”, disparou.
Em outro trecho da entrevista, pregou contra o direito de igrejas adquirirem canais e realizarem programas evangélicos na televisão: “Sou contra. Pode ser uma visão meio radical, mas é que essas concessões são obscuras, desiguais e desproporcionais. À medida que você liga a televisão e só vê uma narrativa, isso está necessariamente inviabilizando e apagando outras memórias. Acho isso errado”, concluiu.