Os casos de pastores evangélicos envolvidos em escândalos sexuais criminosos, como abusos e estupros, vêm se avolumando ao longo dos últimos anos, comprometendo a imagem da Igreja de Cristo enquanto parte da sociedade e ofuscando a mensagem do Evangelho. Um caso recente na Bahia com mais um pastor estendeu a fila dos acusados.
Um homem foi preso em Feira de Santana (BA) na última quinta-feira, 14 de abril, após a Justiça emitir um mandado de prisão preventiva. O alvo atuava como pastor evangélico, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública do estado.
Casos assim vêm, ao longo dos anos, paulatinamente chocando a comunidade evangélica e atraindo olhares de reprovação a todo o segmento por parte daqueles que não são parte desse imenso rebanho. Em maio de 2018, por exemplo, um pastor acusado de estupro e assédio se entregou à Polícia após um mês foragido.
Meses depois, um homem que se passava como pastor foi preso por estupro de menor. O caso veio à tona em meio a toda comoção social por conta das denúncias contra o autointitulado médium João de Deus, também envolvido em acusações da mesma natureza.
O fato de que havia um falso pastor atuando em uma igreja como se fosse ordenado ao sacerdócio não diminui o embaraço para o segmento evangélico, embora sua descoberta, denúncia e exposição tenham mitigado os danos que, potencialmente, ele causaria se não tivesse sido preso.
Em 2021, a Primeira Igreja Batista em Vila Kennedy (PIBVK), em Bangu, zona oeste do Rio de Janeiro, optou por afastar o pastor Antônio Carlos de Jesus Silva, que também é psicólogo, sob a acusação de ter estuprado uma menina de apenas 11 anos de idade.
Meses depois, um expoente neopentecostal de Sergipe foi acusado de tentar se aproveitar de uma fiel que o teria procurado para pedir oração pelo marido, que se recuperava de um AVC. O líder religioso foi afastado da liderança e investigado pela Polícia.
No caso de Feira de Santana, o delegado Roberto Leal afirmou que as acusações contra o pastor envolvem crimes que teriam sido cometidos em dois momentos distintos: um em 2016 e outro há dois meses.
“O último caso foi denunciado pela vítima, cujo relato aponta que o abuso ocorreu dentro da igreja. Esses elementos subsidiaram nossas ações e o próprio mandado de prisão. Estamos buscando a identificação de outras pessoas que tenham sofrido estas violências, contudo, é importante que aqueles que sofreram os abusos compareçam na delegacia e denunciem. As suas identidades serão preservadas e o acusado terá sua responsabilidade estendida acerca destes crimes”, explicou.
Vergonha
A sequência de escândalos sexuais envolvendo figuras que se apresentam como lideranças pastorais, afetam não apenas a imagem da Igreja de Cristo aos olhos da sociedade, como principalmente às vítimas desses crimes, e em múltiplos aspectos.
Vítimas de abuso sexual costumam desenvolver sequelas como o sentimento de vergonha e culpa, pois são manipuladas pelos agressores para se sentirem responsáveis pela ação criminosa. Essa atitude visa, principalmente, a manutenção do silêncio, a fim de que os agressores não sejam denunciados.
Depressão, síndromes do pânico e ansiedade também são sequelas que podem surgir em decorrência do abuso sexual. Tais condições minam a capacidade de reação das vítimas perante o abusador, podendo deixá-las ainda mais reféns da coerção emocional causada por eles.
No caso de lideranças religiosas como pastores, padres e outros, os crimes dessa natureza podem ser ainda mais prolongados e danosos para as vítimas, visto que a associação do agressor a uma posição de autoridade, quer do ponto de vista civil ou espiritual, corrobora para a facilidade de manipulação das vítimas.
Na prática, o que poderia ser mais facilmente identificado e denunciado, pode se tornar um desafio à parte, devido ao status de influência e suposta respeitabilidade que essas agressores possuem aos olhos da comunidade, vide o caso João de Deus.
A Igreja afetada
Além do trauma físico e psicológico das vítimas de abuso sexual por parte de lideranças religiosas, também existem os reflexos danosos sobre a Igreja de Cristo perante à sociedade, visto que esses acontecimentos são escândalos sexuais, e com o agravante criminal.
Não por acaso, Jesus Cristo advertiu sobre o perigo dos escândalos, retratando-os como algo tão grave que, para àqueles que os cometem, melhor que fossem lançados ao mar para morrer.
“É impossível que não venham escândalos, mas ai daquele por quem vierem!
Melhor lhe fora que lhe pusessem ao pescoço uma mó de atafona, e fosse lançado ao mar, do que fazer tropeçar um destes pequenos”, diz o trecho de Lucas 17:1,2.
Se isto serve de consolo, também é possível notar que Cristo disse ser “impossível” que não apareçam escândalos, dando a entender que a Igreja do Senhor, enquanto for composta por pessoas pecaminosas e, portanto, suscetíveis a cometer os mais diversos delitos, terá que lidar com estes problemas, até que o Seu Reino seja finalmente estabelecido.
Por Will R. Filho e Tiago Chagas