Um novo caso de suicídio entre pastores evangélicos abalou a comunidade nas últimas horas. A pastora Lucimari Alves Barro foi encontrada enforcada em sua casa, sem nenhum bilhete explicando os motivos.
Lucimari era casada com o pastor Sandro Barro, da Igreja do Evangelho Quadrangular em Criciúma (SC). Seu corpo foi encontrado na última quarta-feira, 27 de dezembro, e o sepultamento ocorreu na tarde do mesmo dia.
O pastor Sandro Barro usou o Facebook para desabafar e expressar a dor da perda: “Que momento é esse? É muita dor, Senhor. Me ajuda, meu amigo Espírito Santo… desde os 14 anos de idade nunca amei outra mulher, vc foi para mim um achado, um tesouro que não se mede valor. Seu sorriso sempre foi minha alegria, te amei com todas as minhas forças… desculpa minha linda”.
Pastoras que acompanhavam o trabalho de Lucimari também se manifestaram nas redes sociais para lamentar o ocorrido: “Meu coração está dilacerado, pela perda dessa pastora tão amada, tão querida e dedicada a obra, que infelizmente tirou sua própria vida”, afirmou Aimée Chaves.
Em meio ao momento de dor, a pastora Aimée também fez um alerta à Igreja: “Com certeza não fez isso porque era fraca. Muitos de nós pastores andamos muito sozinhos, precisamos de amigos, pessoas pra desabafar, pessoas que não vão expor nossas feridas, mas nos amar e ter misericórdia, amigos para nos orientar e nos entender como ser humano, sem julgamentos, e não apenas olhar para nós como ‘pastores super-heróis’”, pontuou.
“Acorda Igreja, vamos parar de julgar, vamos amar mais vamos ouvir uns aos outros sem julgamento. Eu passei pela depressão, pensei várias vezes tirar minha vida, mas tive amigos que me sustentaram em oração, amor e fé. Meu coração dói por estarmos como Igreja tão longe dos nossos colegas que precisam de amor, atenção ou só de alguém para os ouvir”, reiterou Aimée.
Outra pastora, Franciele Batista, também manifestou preocupação com a recorrência dos casos de suicídio entre líderes evangélicos: “Triste saber que muitos homens e mulheres de Deus estão desistindo da vida, pela pressão e ataques espiritual, dificuldades encontradas ao longo do caminho, sem apoio muitas vezes, sempre está presente na vida de pessoas que precisam, mas quando precisa se vê sozinho, se sua igreja está bem é alvo que críticas dos companheiros que em vez de se alegrar com o crescimento se enche de ciúmes e torcem pra que algo de errado aconteça com o pastor, pra ver sua queda pra se auto afirmar”, criticou.
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“Muitos não sabem até pensam que vida de pastor é fácil é boa. Não sabem a luta espiritual que enfrentam, pois não lutamos contra carne e sangue mas sim contra espíritos malignos que agem na vida das pessoas. Guerreamos contra o inferno pra atrair as pessoas a Deus”, contextualizou Franciele.
Ao final, a pastora Franciele Batista pediu que a Igreja de Cristo se una em oração pelos irmãos que são chamados ao sacerdócio: “Precisamos de proteção pois enfrentamos muitas ciladas e ataques espiritual ao longo da jornada. Que Deus guarde os pastores que tem compromisso com o reino de Deus, de todo desanimo e ataques espiritual”.
Dezembro sombrio
Esse foi o quarto caso de líderes evangélicos brasileiros que cometeram suicídio neste mês, sendo três pastores e um presbítero. O caso com maior repercussão foi o do pastor Júlio César Silva, ex-presidente da Assembleia de Deus Ministério Madureira em Araruama (RJ).
O líder pentecostal era casado e tinha duas filhas, e foi encontrado pendurado em uma corda no último dia 12 de dezembro, mas não deixou nenhum bilhete ou recado detalhando sua motivação. Amigos e colegas de ministério comentaram, posteriormente, que ele havia enfrentado problemas de depressão.
Os outros dois casos foram os do pastor Ricardo Moisés, 28 anos, da Igreja Assembleia de Deus em Cornélio Procópio (PR), que se enforcou na casa pastoral nos fundos da igreja; e o presbítero João Luiz Tavares, da Igreja Assembleia de Deus em Iguaba Grande, na Região dos Lagos (RJ), também enforcado.
Salvação
O suicídio é, para muitos cristãos, uma questão de consequência única: condenação automática ao inferno. No entanto, existem correntes teológicas que estabelecem uma ponderação mais flexível sobre o assunto, deixando aberta a possibilidade de Salvação pela graça.
Um vídeo de uma palestra do reverendo Augustus Nicodemus Lopes, pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia (GO), na Conferência Fiel para Jovens, expõe os critérios usados por estudiosos da teologia para afirmar que o suicídio não é sinônimo de condenação.
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“Eu acho que todos nós temos que concordar que o suicídio nunca deveria ser a saída. É um dos pecados proibidos no mandamento ‘Não matarás’”, disse. “Interpretado pela comissão de fé de Westminster, ele diz que esse pecado não só proíbe que a gente tire a vida dos outros, mas que tire a nossa própria. Então, o suicídio é pecado”, acrescentou o pastor.
Entretanto, Nidodemus foi adiante em sua argumentação: “Todavia ele não é um pecado sem perdão. O único pecado sem perdão, que tem na Bíblia, é a blasfêmia contra o Espírito Santo. E provavelmente esse pecado não é cometido por alguém que é crente. Então pode acontecer com todos esses fatores, como pressões externas, problemas psicológicos, problemas existenciais, que um crente em um momento de fraqueza, ceda”, ponderou.
Mais adiante, o pastor afirma que a visão comum de que este pecado é “suficientemente forte” para a perda da Salvação: “É pecaminoso? De fato é. Mas, não será isso que irá separá-lo da graça de Deus e do perdão que é dado em Cristo Jesus”, disse. “Se a nossa Salvação vai depender de, na hora da nossa morte, a gente ter colocado em dia todos os nossos pecados, então pouca gente vai escapar, não é?”, questionou, expondo a influência calvinista da interpretação teológica.