A facção criminosa que atua nos presídios brasileiros chamada Primeiro Comando da Capital, mais conhecida pela sigla PCC, estaria se aproximando das igrejas evangélicas e paróquias católicas através da oferta de dinheiro para realização de festas. A denúncia partiu do ex-procurador Wálter Maierovitch.
Maierovitch concedeu uma entrevista em que fala sobre o cenário atual de influência e poderio econômico do PCC e a possibilidade de influenciar diretamente nas eleições de outubro, quando os brasileiros elegerão um novo presidente, novos governadores, senadores e deputados estaduais e federais.
Segundo o ex-procurador, que se dedica a estudar o fenômeno social que envolve as facções criminosas, esses grupos têm interesse em se infiltrar no poder político para costurar acordos que reduzam a repressão policial em áreas onde atuam com o tráfico de drogas, por exemplo.
Segundo ele, um acordo desse tipo já vigora na periferia de São Paulo, onde inclusive o PCC estaria buscando aproximação com comunidades de fé evangélicas e católicas: “O PCC está muito infiltrado na sociedade. Em São Paulo, há informações de que ele patrocina festas de igrejas, quermesses. E como toda organização criminosa de matriz mafiosa, o PCC tem poder intimidatório. Como ele controla territórios, quando lança um nome ou uma ordem, as pessoas ficam com medo e obedecem”, afirmou Maierovitch em entrevista à BBC.
O ex-procurador é também ex-professor de Direito Penal da Universidade Mackenzie, em São Paulo, e se aposentou como desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo em 1998 para assumir a então Secretaria Nacional de Políticas Antidrogas, no governo FHC. Como tem dupla cidadania, será candidato a deputado na próxima eleição para o Parlamento italiano, em março.
“A polícia não vai à periferia, onde o PCC atua livre, leve e solto. Há uma lei do silêncio na periferia de São Paulo”, constatou, afirmando que “o PCC passou a atuar transfronteiriçamente – nas fronteiras e do lado de lá das fronteiras no Paraguai e na Bolívia”, o que o tornou mais forte economicamente.
“Está muito claro que toda organização criminosa de matriz mafiosa pode ter influência em eleições. Em São Paulo, por exemplo, já tivemos um tempo em que o PCC ousou lançar um candidato a vereador. Não prosperaram, pois a candidatura foi impugnada. Agora o que ocorre são candidatos procurarem o apoio do PCC”, alertou.
Segundo o ex-procurador, é possível que o cenário do sistema carcerário brasileiro esteja colaborando para que os membros do PCC arregimentem cada vez mais criminosos: “No Brasil, presos provisórios não perdem direitos políticos, porque não têm condenação definitiva. Como o sistema prisional brasileiro não faz separação entre presos provisórios e definitivos, esses presos vão para cadeias dominadas pelo crime organizado e podem ser facilmente cooptados para votar em candidatos apoiados pelas facções”, concluiu.