A travessia dos hebreus em fuga do Egito pelo Mar Vermelho, com as águas abrindo passagem, é uma das narrativas bíblicas que mais desperta ceticismo nas pessoas, pois na sociedade atual, questões práticas tem ofuscado questões de fé, e somente explicações científicas têm terminam por receber crédito. No entanto, aos céticos, a ciência dá o recado: a abertura do mar é um fato possível.
O cientista Carl Drews, da Universidade do Colorado (EUA), contou em entrevista à revista Veja como o fato narrado na Bíblia poderia ser explicada do ponto de vista científico, e que o conhecimento a respeito disso poderia ser usado para preservar vidas.
No capítulo 14 de Êxodo, o versículo 21 conta que “Moisés estendeu a mão sobre o mar, e o Senhor afastou o mar e o tornou em terra seca, com um forte vento oriental que soprou toda aquela noite. As águas se dividiram, e os israelitas atravessaram pelo meio do mar em terra seca, tendo uma parede de água à direita e outra à esquerda”.
Para Drews, a base da explicação científica já é mostrada na própria Bíblia: “Durante as aulas de meu curso de pós-graduação em ciências atmosféricas, aprendemos sobre o fenômeno meteorológico de ventos fortes. Lembrei-me de que a Bíblia afirma que uma ventania separou o Mar Vermelho e resolvi investigar se esses ventos fortes poderiam estar na origem do fenômeno do Êxodo. Analisei os ventos que sopram sobre o Lago Manzala (antigo Lago de Tanis), no Egito e usei um modelo oceânico para reconstruir o evento bíblico. Assim, consegui provar que a divisão do Mar Vermelho pode ser explicada pela ciência – é perfeitamente plausível”, explicou o cientista.
Carl Drews, que lidera um time de pesquisa no Departamento de Ciência Atmosférica e Oceânica da Universidade do Colorado, publicou um estudo ao lado de Weiqing Han sobre o tema. Com o apoio dos pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica dos Estados Unidos, a dupla demonstrou que o movimento do vento descrito na Bíblia pode ter afastado as águas sem quebrar nenhuma lei da física.
O estudo virou um livro, intitulado “Between Migdol and the Sea” (“Entre Migdol e o Mar”, em tradução livre – a expressão “migdol” é um termo usado por arqueólogos para se referirem ao local da travessia dos hebreus).
“Fizemos simulações em computador reconstituindo as localidades mais prováveis da separação das águas do Mar Vermelho, levando em consideração as alterações do relevo ao longo dos anos. Elas mostraram que ventos fortes de 107 quilômetros por hora vindos do Leste e soprando durante toda a madrugada poderiam ter “dividido” as águas em uma região onde um afluente antigo do rio Nilo teria se fundido com uma lagoa costeira no Mar Mediterrâneo. Esses ventos fortes teriam permitido a travessia segura das pessoas – apesar dos ventos soprando contra. Imediatamente após o cessar da ventania, as águas teriam voltado ao normal. Assim, a história bíblica da divisão do Mar Vermelho pode ter acontecido naturalmente”, resumiu.
Questionado sobre o motivo pelo qual acredita que a ciência e a religião não são contraditórias, o cientista foi prático em sua resposta: “Nos Estados Unidos, há um problema que não existe no Brasil. Temos muitas pessoas que pensam que a religião e a ciência devem estar sempre em conflito. Contudo, Deus pode trabalhar por meio das leis da natureza para salvar os homens da destruição. E os cientistas modernos podem entender as leis da natureza e salvar as pessoas de doenças, fome, enchentes, furacões e terremotos. Não importam quais são suas crenças religiosas; é fascinante descobrir que uma história antiga tem base científica”.