A violência urbana no Brasil gera dezenas de milhares de mortes todos os anos, com baixas semelhantes – ou piores – que as registradas em muitas guerras no passado, mas mesmo assim, um policial militar decidiu que não vai mais usar sua arma durante o expediente.
O policial capixaba está lotado no 4º Batalhão da Polícia Militar de Vila Velha (ES), e decidiu que não vai mais usar arma porque acredita que Deus o protegerá. Após sua recusa em portar a arma, ele se tornou alvo de um processo administrativo interno.
O soldado – que teve sua identidade mantida em sigilo – argumentou que “Deus dará o livramento de situações extremas que o obriguem de tirar a vida ou agredir alguém”, e que por isso, não se sente à vontade em portar arma.
A informação foi revelada pelo portal Gazeta Online, a partir dos dados da sindicância interna reproduzida no Boletim Geral da PM número 37, publicado na última sexta-feira, 11 de agosto. A área que o PM cobre durante suas patrulhas abrange os bairros Glória e São Torquato da capital do estado, incluindo a região da Grande Santa Rita e a Grande São Torquato.
O processo administrativo para estudar o comportamento do policial religioso foi iniciado em maio, e agora, se tornou um PAD-RO (Procedimento Administrativo Disciplinar de Rito Ordinário), e pode resultar na exclusão do policial, pois foram constatados “indícios de irregularidades na conduta” do soldado, pois ele apresentou “postura explicitamente incompatível com as atribuições da função policial militar”.
O Ministério Público Estadual e a Corregedoria da Polícia Militar foram notificados do caso, e comunicaram que tomarão as medidas cabíveis. Além de todo o imbróglio com a corporação, a postura do soldado causou incômodo aos colegas da profissão.
“Claro que a arma é o último recurso, mas tem hora que ela não defende só a própria vida, mas também do companheiro de trabalho e do cidadão”, comentou o presidente da Associação dos Cabos e Soldados, sargento Renato Martins Conceição. “É a primeira vez que vejo isso. Só ouvi isso no passado, história de policiais que usavam a arma sem munição. Mas era lenda urbana. A arma de fogo é necessária”, acrescentou.
A história do PM pode ser comparada com a do soldado cristão norte-americano que foi à Segunda Guerra Mundial autorizado a não portar nenhuma arma de fogo, e se transformou em herói das forças armadas do país. Sua história de vida foi retratada no filme Até o Último Homem, vencedor de dois Oscar em 2017.