O fenômeno dos pregadores-mirins no meio pentecostal atrai milhares de pessoas, do Brasile do exterior, em busca de solução para problemas de saúde. Por outro lado, ao crescerem, os pregadores deixam de ser atração e tentam começar uma vida fora dos holofotes.
Um exemplo é o italiano Federico Francolini, 40, portador do vírus HIV, viajou de Roma ao Rio de Janeiro para visitar a igreja pentecostal Missão Internacional de Milagres, em São Gonçalo (RJ) e conhecer a pregadora-mirim Alani Santos, 11 anos.
Alani foi tema de uma reportagem do jornal norte-americano New York Times, junto com outras crianças-prodígio pentecostais. A matéria chamou a atenção do italiano, que por não ter nada a perder, veio ao Brasil conferir se a menina poderia curar mesmo.
Ao final do culto, Francolini afirmou ao jornal Folha de S. Paulo que estava feliz com a experiência, e que havia aprendido que precisa buscar a Deus para obter sua cura: “Quando ela me tocou, senti um perfume especial. Não acho que a cura funcione como mágica. Tem que orar todo dia”.
Hoje, Alani ainda tem idade para atrair a atenção das pessoas aos cultos de sua igreja. Porém, o jovem Matheus Moraes, 17 anos, está deixando os púlpitos. Depois de ter iniciado suas pregações aos seis anos de idade, viajado por todo o Brasil e países do exterior e gravado quase 40 DVDs, está numa faixa de idade que já não causa mais tanta empatia.
“Quando a criança cresce, perde o carisma. Enquanto é pequena, tudo que ela faz impressiona, as pessoas acham fofo”, afirmou Moraes.
O mesmo aconteceu com a jovem Ana Carolina Dias, que ficou famosa aos 7 anos depois que vídeos de suas pregações foram divulgados na internet. Agora, deixou os púlpitos para dar aulas de física e garantir o sustento, de acordo com o jornal.
Para o pastor e mestre em Ciências da Religião Ed René Kivitz, líder da Igreja Batista da Água Branca (IBAB) em São Paulo, as crianças não possuem estrutura intelectual e maturidade suficiente para serem pregadoras pois não conseguem compreender os sentidos reais dos textos bíblicos: “Ela pode, no máximo, decorar discurso e mimetizar o comportamento adulto”.
Já o pastor Silas Malafaia vê por um lado ainda mais grave, e acusa os responsáveis de exploração: “Isso não é comum. Está fora da estrutura psicológica e emocional da criança. É uma exploração por parte dos pais”.
O professor Ronaldo Romulo Machado de Almeida, docente da Unicamp e especialista em pentecostalismo, os pregadores-mirins chamam a atenção de pessoas marginalizadas, e funcionam como um símbolo de esperança para figuras “extremas”, como deficientes físicos, por exemplo: “É uma demonstração de que Deus usa qualquer um. [Isso] Produz ânimo espiritual nas pessoas”.