O presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, recentemente contou os detalhes de sua reunião com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Conhecido por seu estilo agressivo de negociação, o mandatário norte-americano pressionou o líder nigeriano por conta das mortes de cristãos que vêm ocorrendo no país.
A reunião, em abril de 2018, foi realizada em Washington, e o presidente Buhari afirmou que a conversa foi tensa, com Trump o acusando de ser responsável pela morte dos cristãos na Nigéria. A defesa de cristãos perseguidos foi uma promessa de campanha feita em 2016 pelo então candidato.
No entanto, Buhari disse que se defendeu contando que o conflito entre fazendeiros cristãos e pastores fulani – criadores de ovelhas que são de uma etnia ligada ao islamismo – que resultou em mortes foi causado por questões culturais e não ditado por fatores étnicos ou religiosos.
Buhari contou que a acusação feita por Trump foi olho no olho, enquanto os dois líderes estavam sozinhos. O presidente dos Estados Unidos disse acreditar que ele estava massacrando os cristãos do país por se omitir diante das mortes. No artigo, Buhari contou que se assustou com a abordagem agressiva, mas controlou suas emoções e seguiu explicando os detalhes da situação em seu país.
Conforme informações do portal AllAfrica, a explicação que Buhari disse ter contado a Trump, ele relatou que apenas os líderes nigerianos na Primeira República mantiveram as rotas de pasto enquanto as subsequentes as invadiam, acrescentando que a crise era mais velha do que ele mesmo.
“Acredito que fui o único africano entre os países menos desenvolvidos que o presidente dos Estados Unidos convidou, e quando estava em seu gabinete, só eu e ele mesmo – só Deus é minha testemunha – ele me olhou no rosto [e perguntou] ‘por que você está matando cristãos?’. Eu me pergunto se você é a pessoa que vai reagir. Espero que o que eu estava sentindo por dentro não tenha traído minha emoção. Então, eu disse a ele que ‘o problema […] que eu conheço é mais velho que eu’”, contou Buhari.
“Com as mudanças climáticas e o crescimento populacional e a cultura do pecuarista, se você tem 50 vacas e elas comem capim, qualquer caminho até o seu ponto de água, eles vão seguir, não importa de quem era a fazenda. O primeiro conjunto de liderança da república foi a liderança mais responsável que já tivemos. Eu pedi ao ministro da Agricultura para obter um jornal do início dos anos 60 que delineava as rotas do gado onde eles usavam os escassos recursos para construir represas de terra, moinhos de vento”, contextualizou o presidente nigeriano.
“Todo pecuarista que deixou seu gado ir para a fazenda de alguém é preso, levado ao tribunal, o fazendeiro é chamado a apresentar sua conta e se não puder pagar, o gado é vendido, mas as lideranças posteriores, VVIPs (pessoas muito importantes) invadiram as rotas do gado, ocuparam as áreas de criação de gado”, acrescentou. “Então, eu expliquei a ele [Trump] que isso não tem nada a ver com etnia ou religião. É uma coisa cultural em que a respectiva liderança estava falhando com a nação”, disse Buhari.
Em 2015, quando foi eleito presidente, Muhammadu Buhari era visto pelos cristãos do país como o único com chances de derrotar os extremistas do grupo Boko Haram, que prega o extermínio dos seguidores de Jesus no país.