O racismo é uma das ignorâncias mais difíceis de serem extirpadas da sociedade. Em pleno século XXI, a filha de um pastor foi discriminada na Itália por ser negra, e impedida de participar de um concurso de talentos musicais.
Com 15 anos de idade, a adolescente tentou inscrever-se no festival de calouros “Canta Verona”, mas os organizadores negaram a inscrição dizendo que as regras do concurso “não aceitavam estrangeiros”.
Então, a jovem – chamada Dora – respondeu ao e-mail dizendo que era nascida na Itália e seus pais viviam há mais de 30 anos no país. Diante disso, o responsável pelas inscrições abandonou toda a discrição que ocultava seu racismo.
“Não!!! Você nasce italiano, não se torna italiano. Nasce-se de pais italianos. Eu acho que é assim, e esse concurso é reservado apenas para italianos de fato”, escreveu o responsável, usando letras maiúsculas.
Indignada, a jovem tentou argumentar novamente, mas a postura foi sarcástica: “Há também chineses com cidadania italiana, mas eles não são italianos de fato”, afirmou o produtor, reiterando a negativa.
A saída encontrada pela jovem foi publicar a conversa nas redes sociais, para mostrar o preconceito a qual estava sendo submetida. A repercussão foi tão intensa que chamou atenção da grande mídia, como por exemplo, o conceituado jornal Corriere Della Sera.
Na entrevista ao jornal, ela disse que seu pai é pastor e que sua família “dá muita atenção à música e sempre fui imersa neste mundo”, mas que apesar da grosseria dos organizadores, não havia ficado “irritada”, mas sim, frustrada: “Me senti ferida porque eu me sinto completamente italiana, mesmo se tenho, obviamente, minhas raízes africanas”, lamentou.
“Estudei aqui, cresci aqui, sigo as tradições italianas. O fato que ele colocou – uma diferença entre eu e todas as pessoas sobre coisas que fazemos todos os dias – me feriu. Era como se ele me dissesse que eu podia fazer qualquer coisa, mas por causa da minha cor de pele não estava no mesmo nível de todos os meus amigos, companheiros e conhecidos italianos”, disse.
Desculpas
O responsável pela recusa da inscrição da jovem veio a público após a repercussão, se desculpando pela postura e dizendo que errou ao escrever as mensagens preconceituosas. Ele tentou justificar seu comportamento dizendo que “não tem como saber” quem envia e-maisl tentando se inscrever no festival.
“Percebi que errei ao escrever aquelas coisas, mas não sabia o que fazer realmente. Acreditava que fosse uma brincadeira, uma provocação. De qualquer maneira, essa é minha opinião e não acho que cometi um crime. E agora minha vida está arruinada”, afirmou, em entrevista à Vanity Fair.