O relatório da CPI vazado à imprensa mostrou que o senador Renan Calheiros (MDB-AL) pretende indiciar o pastor Silas Malafaia e outros dois assessores do presidente Jair Bolsonaro, acusando-os de produzir fake news.
Um capítulo da versão inicial do relatório do relator da CPI da Covid atribui a Silas Malafaia e os assessores presidenciais Filipe Martins e Tércio Arnaud um papel de destaque nas decisões de Bolsonaro.
Segundo Renan Calheiros, o trio age para “desinformar” e “oferece suporte político às decisões da organização”. Sobre o pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, especificamente, o senador entende que Malafaia incentiva “as pessoas ao descumprimento das normas sanitárias impostas para conter a pandemia”.
A jornalista Amanda Almeida, do jornal O Globo, publicou nota afirmando que Calheiros pretende indiciar Malafaia e os dois assessores “no art. 286, do Código Penal, por incitação ao crime”.
Convocação
Em maio deste ano, quando a CPI estava em seu primeiro ciclo de interrogatório, o pastor Silas Malafaia desafiou o senador Omar Aziz (PSD-AM) a convoca-lo, e disse que o presidente do colegiado era “arregão”.
A hipótese da convocação do pastor à CPI surgiu de um debate entre os senadores Marcos Rogério (DEM-RO) e Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), quando o senador fluminense afirmou que o relacionamento do presidente Jair Bolsonaro com os filhos não deveria ser um tabu pelo elo familiar, e afirmou que um dos conselheiros mais próximos do mandatário é justamente o líder da ADVEC.
“Parece que é o maior absurdo um filho conversar com o pai. E aí, senador Renan [Calheiros, MDB-AL], sem nenhuma provocação, é completamente normal o senhor conversar com seu filho, que é governador. O seu filho se aconselhar com o senhor. E agora, Carlos Bolsonaro a todo momento o nome dele é trazido a essa CPI como se houvesse um conjunto de pessoas que dão aconselhamento paralelo, algo obscuro ou criminoso”, pontuou Flávio na ocasião.
Em seguida, o Flávio sugeriu a convocação do líder da ADVEC: “Toda hora falam aqui de família, até ministro sendo acusado de dar aconselhamento paralelo ao presidente, por incrível que pareça. Agora, se querem ouvir alguém que dá conselho ao presidente da República, vou dar um nome: chama o pastor Silas Malafaia aqui, esse fala quase diariamente com o presidente e influencia o presidente. Chama ele aqui e vê se influenciou alguma coisa nas políticas públicas”.
‘Arregão’
Marcos Rogério se comprometeu a apresentar o requerimento de convocação de Malafaia, mas aparentemente a hipótese desagradou Calheiros e Aziz, uma vez que o líder evangélico é aliado de Bolsonaro e poderia expor as ações do governo federal que não vêm tendo cobertura na mídia.
Ao rejeitar o requerimento do senador rondoniense, Aziz justificou dizendo que Malafaia “é seguido por muita gente”, dando a entender que suas palavras na CPI poderiam ter grande repercussão em defesa do governo. “Estou indeferindo seu pedido, não vou pautar isso”, acrescentou Aziz.
A aposta do pastor era que o convocassem para depor, e bem a seu estilo, não deixou por menos a decisão do presidente da CPI: “O arregão do Aziz cheio de dedo para não me convidar para CPI. Quem fala da minha envergadura é o Renan kkk”, escreveu no Twitter.