Os protestos em São Paulo organizados pelo Movimento Passe Livre tomaram grande proporção e, apesar da repressão violenta da Polícia Militar (PM), tem atraído cada vez mais manifestantes.
Dois evangélicos que se engajaram no movimento publicaram nas redes sociais suas impressões a respeito dos protestos e também da ação policial.
No Twitter, o empresário evangélico Marco Gomes resumiu numa frase a dimensão da repressão aos manifestantes: “2013, São Paulo, cuidado que o porte de vinagre te leva preso”, disse ele fazendo alusão às prisões de manifestantes que portavam vinagre, usado para anular o efeito de bombas de gás lacrimogêneo lançadas pelos policiais. Marco, que viu quando “explodiu uma bomba de efeito moral ao meu lado que eu senti a shockwave”, estava em São Paulo no momento da “revolta do vinagre”, como ficou conhecida, e relata que “ontem eu queria ir da republica para a avenida Paulista e a PM não deixou eu “ir e vir”. E me tacou bomba e gás”. Marco também completou que embora muitos critiquem as manifestações ligando elas a movimentos políticos, “nenhum líder partidário me chamou, não vi nenhuma bandeira de partido erguida lá”.
“Ontem haviam dezenas de pessoas no ponto de ônibus esperando para irem para casa. Todos violentamente agredidos pelas bombas da PM. No ponto de ônibus uma tiazinha agarrou o braço da Talita [esposa do empresário] e chorou muito, por causa da ação da PM, bombas, gás, cavalaria…” – Marco Gomes
O excesso da Polícia foi registrado pelos manifestantes em diversos vídeos, publicados no Youtube. Num trecho da avenida Paulista, um grupo pequeno de manifestantes gritava as palavras de ordem “Sem Violência” e foi atacado pela Tropa de Choque da PM. Em outro, um grupo de jornalistas fotografava a ação dos militares quando se tornou alvo das bombas de gás e balas de borracha.
Uma jornalista da Folha de S. Paulo foi atingida durante as manifestações, e correu o risco de perder a visão do olho direito.
Inicialmente, o movimento começou com protestos contra o aumento das passagens de trens e ônibus, porém, a insatisfação social com diversos outros fatores começou a ser externada conforme o movimento de protesto cresceu, chegando a reunir até 5 mil pessoas na tarde da última quinta-feira, 13 de junho.
O ativista Moisés Lourenço, evangélico, relatou sua experiência durante a tarde da última quinta-feira num artigo escrito para o Pavablog. Segundo Lourenço, a manifestação começou de forma pacífica, e até que foram atacados, os manifestantes não haviam esboçado qualquer atitude de violência.
“Nos encontramos em frente ao Teatro Municipal de SP. Protestos com canções e faixas. Nada de violência, muito pelo contrário, havia entre os manifestantes, muita educação sob um clima de protesto e a leveza de estar assegurado pela Lei. A policia, como em qualquer protesto, apenas acompanhava a fim de conter os excessos. Não tiveram problema algum com o ponderado protesto inicial”, escreveu.
Lourenço diz ainda que viu de perto quando a Tropa de Choque iniciou os ataques, pondo em risco a segurança de transeuntes: “Andamos até a praça Roosevelt e a manifestação continuou do mesmo jeito. O povo concentrado na praça. Saí de perto para tentar ligar para uma amiga, no que fui surpreendido com a tropa de choque chegando sorrateiramente bem atrás de mim. Desliguei o celular e saí correndo, gritando para dar tempo de avisar os demais manifestantes. Em questão de segundos, a tropa fez cair sobre a turba, uma nuvem de gás que asfixiou a todos, de modo simultâneo. Corremos, indo para a outra extremidade da praça. O povo ponderado se transformou pelo caos do terror. Desmaios, aglomeração. A larga praça se tornou estreita para os milhares que tentavam sair da fumaça covarde”.
Segundo o relato de Moisés Lourenço, houve excesso da PM ao reprimir a manifestação que, embora numerosa, até então era pacífica.
“Uma vez encurralados, aviltados, agredidos, submanizados, reprimidos e privados de seus direitos, o povo tolhido e coagido se defendeu com pau, pedra, lixo queimado e pichação do tipo: “O Estado precisa ouvir o povo”. Ora, o povo estava fazendo um protesto limpo, se ajoelhou, pediu clemência e mesmo levou tiro de borracha nos olhos. Foi obrigado a se defender e revidar. O revide foi quase insignificante perante o ataque da polícia. Éramos indefesos diante da cavalaria, dos tiros e dos gases”, explicou.
A cobertura da mídia tem sido, de acordo com Lourenço, parcial e tendenciosa: “Você não acreditou em nada do que eu disse? Venha comigo. Simples. Venha comigo participar do próximo protesto. Você vai ver outra realidade, completamente diferente da noticiada por parte da mídia brasileira (inclusive, a mídia internacional está sendo mais verdadeira)”.
Assista a vídeos que mostram o excesso do uso de força por parte da polícia:
“Sem violência”
Ataque à imprensa
Ataque de policiais ao jornalista Pedro Ribeiro
Manifestantes encurralados
Confira a íntegra do relato de Moisés Lourenço:
Este é meu depoimento sobre a noite do dia 13/06/2013 e podemos chamar de “A REVOLTA DA SALADA” ou “V DE VINAGRE”, como estão dizendo por aí. Julgue-me:
Nos encontramos em frente ao Teatro Municipal de SP. Protestos com canções e faixas. Nada de violência, muito pelo contrário, havia entre os manifestantes, muita educação sob um clima de protesto e a leveza de estar assegurado pela Lei. A policia, como em qualquer protesto, apenas acompanhava a fim de conter os excessos. Não tiveram problema algum com o ponderado protesto inicial.
Andamos até a praça Roosevelt e a manifestação continuou do mesmo jeito. O povo concentrado na praça. Saí de perto para tentar ligar para uma amiga, no que fui surpreendido com a tropa de choque chegando sorrateiramente bem atrás de mim. Desliguei o celular e saí correndo, gritando para dar tempo de avisar os demais manifestantes. Em questão de segundos, a tropa fez cair sobre a turba, uma nuvem de gás que asfixiou a todos, de modo simultâneo.
Corremos, indo para a outra extremidade da praça. O povo ponderado se transformou pelo caos do terror. Desmaios, aglomeração. A larga praça se tornou estreita para os milhares que tentavam sair da fumaça covarde. Moradores e transeuntes tiveram que fugir pelo mesmo encurralamento dos manifestantes. Vi um idoso de bengala no meio da turba, sendo deixando para trás, aparentemente “calmo”, mas que na verdade, estava “condenado” pela pouca força. Estava condenado a andar devagar, com a preocupação exclusiva de se apoiar na bengala, quando era a hora de correr. Não pude fazer nada, por mais que eu quisesse.
Nos espalhamos pelas ruas da Bela Vista. O coração a mil, a revolta instaurada, o cansaço, as mãos vazias. Fomos brutalmente atacados, munidos apenas de nossas vozes. “Para quê o capacete”, “o vinagre”, “a máscara”?. Bem, você é inteligente. Pense. Todas essas coisas são usadas para se proteger do gás e dos tiros de borrachas. Você pensava que era uma armadura terrorista? O vinagre seria utilizado para declarar uma guerra biológica? Não. O vinagre serve para ajudar contra ataques do gás e para nossa surpresa, a polícia decidiu prender a todos que fosse encontrado com o vinagre, ou seja, a ideia era: “você tem que se asfixiar até desmaiar”.
Uma vez encurralados, aviltados, agredidos, submanizados, reprimidos e privados de seus direitos, o povo tolhido e coagido se defendeu com pau, pedra, lixo queimado e pichação do tipo: “O Estado precisa ouvir o povo”. Ora, o povo estava fazendo um protesto limpo, se ajoelhou, pediu clemência e mesmo levou tiro de borracha nos olhos. Foi obrigado a se defender e revidar. O revide foi quase insignificante perante o ataque da polícia. Éramos indefesos diante da cavalaria, dos tiros e dos gases.
Agora, me responda: você acha que a nossa atitude foi de vandalismo? Se você está sendo atacado por uma brutal e esmagadora força superior, você não pegaria em cabo de vassoura ou saco de lixo? Jornalistas sofreram também, por portarem vinagre e por filmarem. Imaginem o que aconteceu com os manifestantes… a mídia pega a cena da queima do lixo, dos jovens de máscaras ou da pichação, edita com a polícia chegando “depois” e…. bingo. O telespectador chega a conclusão: “nossa, um grupo de vândalos com máscaras está queimando a cidade, ainda bem que a polícia chegou a tempo”. Percebem a inversão nos fatos?
Você pode questionar o motivo do protesto. Se é relevante ou não, uma coisa é certa, é preciso respeitar quem julga relevante a ponto de se reunir para se manifestar. Todos têm direito, não é? “Vadias”, evangélicos, homossexuais, professores, índios, “maconheiros” e etecéteras. A conclusão é que o que aconteceu no dia “13”, assim como em dias anteriores, abre um novo tempo no Brasil, de modo semelhante ao que aconteceu na Turquia, que no dia 31/05/2013, levaram milhares de pessoas a contestar a truculência governamental contra cidadãos que se opunham à derrubada de árvores para a construção de um shopping na Praça Taksim, em Istambul. Esses vinte centavos da tarifa, sairão muito caro.
Outrossim, conclamo a todos a aquecer o mercado brasileiro! Vamos deixar nosso país mais rico! Vamos comprar! Vamos comprar vinagre e desembainhar nas ruas, como se fosse uma espada. Porque o vinagre é a versão da arma química do Iraque.
Saia do Facebook. Isso vai chegar na sua cidade. Se organize e proteste. Prepare-se para correr. Se proteja. Filtre as informações da mídia. Contenha os excessos. Quem sabe, esta revolta expanda e abranja protestos contra a corrupção, contra educação falida, onde estudantes concluem o ensino sem saber ler e escrever direito, contra a saúde, que, por causa da negligência, milhares de pessoas morrem todo ano (você vai marcar uma cirurgia hoje, só que precisa entrar na fila e esperar 6 meses; tempo suficiente para o agravamento e a morte), contra a violência, onde vira “moda” queimar dentistas e etc.
Você não acreditou em nada do que eu disse? Venha comigo. Simples. Venha comigo participar do próximo protesto. Você vai ver outra realidade, completamente diferente da noticiada por parte da mídia brasileira (inclusive, a mídia internacional está sendo mais verdadeira).
Por Tiago Chagas, para o Gospel+