O renomado pastor Rick Warren, conhecido por obras devocionais como Uma Vida com Propósitos, buscou evitar a expulsão da sua igreja, a Saddleback Church, fundada em 1980 e presente atualmente em 14 estados americanos, da Convenção Batista do Sul (SBC), após ter sido alvo de processo disciplinar devido à ordenação de pastoras.
O pastorado feminino é um tema que ganhou força apenas algumas décadas trás, lado à influência do movimento feminista na sociedade, consequentemente em seminários teológicos de variadas correntes, mas sendo algo que não se confunde com a atuação das mulheres na igreja nas mais diversas áreas, como em missões e evangelismo, por exemplo.
Para os defensores da liderança espiritual feminina sobre a Igreja, a Bíblia não condena a ordenação de mulheres e, mesmo sem haver relatos de ordenação ministerial tanto no Antigo quanto no Novo Testamentos, os mesmos acreditam que isso se deve a uma interpretação cultural, levando-se em consideração a época em que os livros da Bíblia foram escritos.
Ao apresentar a defesa da sua denominação, no último dia 13, Rick Warren lembrou que os batistas sempre tiveram divergências doutrinárias em alguns aspectos, podendo ser a questão da ordenação de pastoras apenas mais uma dessas.
“Por 178 anos, a SBC tem tido pelo menos uma dúzia de tipos diferentes de batistas, se você acha que todo batista pensa como você, você está enganado”, disse o pastor. “Por que essa questão deveria cancelar nossa irmandade?”.
Para Warren, divergências capazes de gerar expulsão da Convenção devem ser consideras apenas em termos de pecados que claramente afrontam a Deus e à doutrina cristã, algo que, para ele, a aceitação de mulheres pastoras não se enquadra.
“Devemos remover igrejas por todos os tipos de pecados sexuais, pecados raciais, pecados financeiros, pecados de liderança, pecados que prejudicam o testemunho de nossa convenção. Mas as 1.129 igrejas com mulheres na equipe pastoral não pecaram”, disse ele.
E completou, segundo o Christian Post, frisando que acreditar na ordenação de pastoras não é o mesmo que aceitar pecados: “Se as divergências doutrinárias entre os batistas forem consideradas pecado, todos nós seremos expulsos. Você nunca conseguirá que 100% dos batistas concordem 100% em 100% de todas as doutrinas”.
Warren é rebatido
Apesar do pastor Rick Warren ter quisto tratar a questão da ordenação pastoral feminina como algo equiparável a outras divergências doutrinárias comuns, o presidente do Seminário Teológico Batista do Sul, Dr. Al Mohler, rebateu a sua declaração argumentando não se tratar de algo passivo em termos de doutrina.
“Não é apenas uma questão de política da igreja, não é apenas uma questão de hermenêutica. É uma questão de compromisso bíblico, um compromisso com as Escrituras que inequivocamente acreditamos limitar o ofício de pastor aos homens”, respondeu Mohler.
Em outras palavras, Dr. Mohler explicou que, diferentemente de divergências por questões relativas à tradição e costumes, a ordenação de pastoras é algo que afronta um ensino da Bíblia, que é o ministério pastoral delegado aos homens, algo que a Convenção entende ser uma doutrina inegociável, já que envolve a condução da Igreja.
“O próprio Dr. Warren fez repetidas declarações e a igreja tomou repetidas ações que deixam muito claro que rejeita o entendimento confessional da Convenção Batista do Sul sobre esse assunto. Esta não é uma questão de mal-entendido”, concluiu Mohler.
É doutrina
No Brasil, denominações como a Convenção Batista Brasileira (principal e mais antiga convenção da Igreja Batista, a CBB), Convenção Geral das Assembleias de Deus do Brasil (CGADB) e a Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) também não reconhecem, oficialmente, a ordenação de mulheres ao pastorado.
Em um artigo publicado, por exemplo, na revista Ultimato, o reverendo e teólogo Dr. Augustus Nicodemus Lopes explicou o motivo pelo qual a Bíblia não relata mulheres em posição de liderança espiritual sobre comunidades judaico-cristãs, dizendo não se tratar de questão cultural, mas de um princípio doutrinário estabelecido desde a Criação.
“Trata-se de um argumento baseado na Trindade. Começa na Trindade e termina na relação do homem e da mulher no que diz respeito ao contexto da igreja. Trata-se, portanto, de um argumento doutrinário-teológico, não de um argumento cultural”, diz o reverendo.
Segundo Nicodemus, a liderança ministerial também se reflete na liderança familiar, motivo pelo qual a ordenação feminina ao pastorado constitui uma inversão do ensino bíblico quanto às responsabilidades do homem e da mulher na condução da família.
“Do ponto de vista bíblico, o papel do homem e da mulher são diferentes. Estabelecidos na criação e agravados por causa da Queda. Embora Cristo nos redima, sendo o Redentor da condição humana, esses papéis não são abolidos no Novo Testamento”, diz ele.
“Somos redimidos, o homem e a mulher são salvos da mesma forma, pela graça, mediante a fé em Cristo Jesus, e recebem dons espirituais equivalentes. Contudo, o exercício do governo espiritual da igreja e do governo do lar foi destinado para o homem cristão”, conclui Nicodemus.