O Smilinguido é um dos personagens infantis voltados ao público gospel mais conhecidos no Brasil. Há décadas, cartões, camisetas, livros e outros produtos são distribuídos em lojas voltadas ao público cristão. No entanto, uma agenda de 2017 vem causando polêmica nas redes sociais por causa da abordagem de temas ligados ao sexo.
Apesar de ser uma marca identificada com o público infantil – e de manter uma linha visual que continua atraindo a atenção de crianças – o Smilinguido não é mais exclusivo para crianças. Uma série de produtos é voltado, agora, ao público feminino adulto. E dessa abordagem não tão clara surgiu uma grande confusão.
A referência a questões sexuais em frases no rodapé da agenda e os devocionais sem a referência exata à Bíblia Sagrada foi motivo de protesto por parte de uma consumidora da marca, em sua página no Facebook.
“Amigos, não comprem para suas crianças a agenda 2017 do Smilingüido. Minha sobrinha ganhou uma de presente e tem um mês apenas sobre sexualidade. Não é agenda infantil, apesar do desenho ser ultra infantil. Fora isso, o devocional veio cheio de erros indicando capítulos e versículos que não existem”, protestou Leiliane Lopes.
Nos comentários, a reação à queixa de Leiliane foi de indignação. “Fundo do poço”, disse um dos internautas. “Que absurdo”, comentou outro. Em meio às reações de quem viu a publicação, houve quem ponderasse sobre os motivos da abordagem do tema: “As mensagens são totalmente necessárias. O erro está apenas na falta de uma indicação de faixa etária”.
Esse raciocínio foi confirmado por Leiliane: “Por isso falei para não comprarem para crianças… a menos que os pais estejam dispostos a responder as perguntas que minha sobrinha me fez… inclusive o que é Eros”, comentou. “Gente… faltou versículos tbm. A intenção foi boa, mas isso deve ser corrigido!”, respondeu uma das pessoas que interagiu na publicação.
Outro lado
O Gospel+ procurou a assessoria de imprensa da Editora Luz e Vida para obter um posicionamento a respeito da polêmica. Em contato telefônico não foi possível esclarecer a questão. Dias depois, por e-mail, o superintendente da empresa, Samuel Eberle dos Santos, respondeu as perguntas, esclarecendo que o produto em questão é voltado ao público feminino adulto.
Questionado se houve preocupação com o efeito que a abordagem de questões sexuais no produto teria sobre crianças que tivessem contato com a agenda, Santos argumentou que a proposta é de alcançar clientes que cresceram com o Smilinguido e hoje seguem fiéis à marca.
“O portfolio de produtos do Smilinguido é constituido de mais de oitocentos itens tendo produtos destinados as crianças, a universitários e para o publico adulto, sobretudo o público feminino. O Smilinguido é um personagem evangélico que tem trinta e sete anos de existência. Muitos adultos e jovens que foram influenciados pelas mensagens do personagem enquanto crianças continuam adquirindo produtos com o personagem e assim demandando produções específicas. No caso da Agenda em particular, o conteúdo é direcionado para juniores adolescentes e adultos, não para crianças. Não foi abordado assuntos sexuais com crianças e também o público que adquire esse produto (agendas) não é propriamente crianças”, disse.
Sobre a alegação de que há, na agenda, devocionais sem referências bíblicas corretas, Santos foi incisivo: “Não confirmamos. São quase duzentos versiculos biblicos, se algum estiver com o endereço errado foi um lapso de revisão”, argumentou.
Diante do fato de que crianças acabam atraídas pelos produtos Smilinguido, mesmo quando são voltados a um público de maior idade, Santos foi questionado se há preocupação da parte da editora em transmitir alguma mensagem preventiva em relação à identidade de gênero, tema caro à maioria dos cristãos no país. A resposta foi ampla.
“No caso da agenda do Smilinguido 2017 o tema não é sexualidade, é Amor. As páginas lidas fora do contexto, podem denotar essa idéia, mas dentro do contexto está claro que a abordagem é sobre o amor, sendo a sexualidade uma das dimensões do amor”, pontuou o superintendente da Luz e Vida.
“Em outras edições da Agenda do Smi, inclusive por orientação de pedagogas cristãs, publicamos um Calendário Menstrual (já que o publico predominante era de adolescentes femininos), alguns pais reclamaram, nós eliminamos, mas continuamos recebendo pedidos para que volte a ser publicado, pois há um aspecto didático nessa publicação. Não estamos convencidos de que devemos publica-lo novamente exatamente por ser polêmico”, acrescentou Santos.
Ainda sobre a mesma questão, o superintendente levantou questões que tornam o tema ainda mais complexo: “A Bíblia não omite o amor e o sexo. Está claro em alguns episódios: o adultério de Davi; A Mulher adultera… o próprio livro de Cantares de Salomão; só para citar alguns, mas há outros talvez mais agudos como Incesto, o caso de Onã (Gn38.8), etc… se uma pessoa de doze anos está apta a fazer sua profissão de fé e receber o batismo, deve estar apta para ler a Bíblia toda; ou deveremos priva-la da leitura da Bíblia? Ou fazer uma edição censurada da Bíblia? Veja é um assunto muito delicado”, afirmou.
No entanto, nesse ponto, Santos não fez considerações sobre o fato de que, na cultura evangélica brasileira, a maioria das igrejas promove grupos de estudos da Bíblia para adolescentes com temas apropriados à idade, geralmente baseados na mensagem do Novo Testamento.
A proposta da editora, segundo frisou Santos, é abordar questões relevantes de uma forma que não promova conflitos com o método de educação escolhido por cada família e respeitando os princípios bíblicos.
“Nós, da Luz e Vida respeitamos a orientação que cada família tem para seus filhos, por isso não queremos que nossas publicações sejam polêmicas. Sexo e sexualidade são temas de difícil abordagem. Infelizmente fomos infelizes ao publicar em algumas páginas, textos, inclusive bíblicos, que fora do contexto pudessem ofender alguns. Já nos retratamos com a pessoa e assumimos o compromisso de cuidar ainda mais com o conteúdo de nossos produtos. Não somos favorável a polêmicas, somos a favor da unidade”, destacou.
Sobre a indicação de faixa etária – questionada pelos clientes da empresa na rede social -, Santos disse que “não há no mercado alguma agenda com indicação de faixa etária”, novamente desconsiderando a peculiaridade do produto em questão, que permanece associado às crianças.
Santos concluiu os esclarecimentos sobre o assunto reiterando que a Editora Luz e Vida tem como missão “aproximar as pessoas a Deus”, e que isso faz parte dos valores de “fidelidade aos princípios cristãos; honestidade, simplicidade, respeito ao cliente interno e externo”.