A mais nova polêmica sobre ideologia de gênero se instalou no esporte, após Tiffany, atleta transexual que atua na Superliga Feminina de Vôlei, tornar-se o centro das atenções por conta de um comentário feito pelo técnico Bernardinho. O resultado da discussão é que o deputado estadual de São Paulo, pastor Altair Moraes (PRB), apresentou projeto de lei que estipule o sexo biológico como critério para definir de qual modalidade os atletas devem participar.
Tiffany, que fez cirurgia de mudança de sexo, atuava anteriormente por clubes masculinos. Agora, vem jogando pelo Sesi Bauru, e recentemente enfrentou – e derrotou – o Sesc RJ, comandado por Bernardinho, nas quartas de final da competição. Inconformado com o desempenho claramente superior, o técnico desabafou sobre a desigualdade de força a favor de Tiffany no confronto contra as demais jogadoras.
Bastou isso para que o treinador – multicampeão nas modalidades masculino e feminino do vôlei – fosse rotulado de transfóbico pela militância LGBT. A ex-jogadora da Seleção feminina, Ana Paula Henckel, medalhista de bronze nas Olimpíadas de Atlanta (EUA) em 1996, saiu em defesa de Bernardinho, afirmando que ele apenas disse a “verdade” quando se referiu a Tiffany como “homem”.
“Leio que a militância a favor de trans no esporte feminino, e contra as mulheres, atacou Bernardinho por ele ter dito a verdade, que Tiffany tem um ataque de homem. Minoria barulhenta que quer empurrar a todo custo que sentimentos são mais importantes que fatos e biologia. Não são. Num post de um perfil LGBT que ataca brutalmente Bernardinho por ter dito a verdade, a lucidez é mostrada exatamente nos comentários da própria comunidade gay que, em absoluta maioria, não concorda com homens biológicos competindo, vencendo e batendo recordes de mulheres”, escreveu Ana Paula nas redes sociais.
Projeto de lei
Em reação à polêmica, o pastor Altair Moraes (PRB), deputado estadual ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, apresentou um projeto de lei que estabelece o sexo biológico como o único critério para a definição do gênero de competidores em partidas esportivas oficiais no Estado de São Paulo. Os detalhes do projeto foram apresentados no Diário Oficial do estado na última terça-feira, 02 de março.
Para evitar vantagens de atletas trans sobre as demais jogadoras, ou a desvantagens de jogadoras nascidas mulher em relação aos jogadores masculinos, o parlamentar propõe que seja vedada a atuação de atletas transexuais nas modalidades voltadas para o sexo biológico oposto.
Segundo o jornal esportivo Lance!, caso se torne lei, Tifanny estaria impedido de jogar no vôlei feminino. O projeto prevê ainda multa de até 50 salários mínimos para a federação, entidade ou clube que descumprir a lei.
O projeto irá para votação no plenário da Assembleia Legislativa de São Paulo e a lei entra em vigor 180 dias após sua publicação, caso seja aprovado. “Tal situação vem se repetindo em diversas modalidades esportivas, em que pessoas do sexo biológico masculino, após cirurgias de redesignação sexual, alteração do nome social, implantes mamários, gluteoplastias de aumento, e ininterruptos tratamentos hormonais, passam a integrar equipes femininas. Apesar de todos os procedimentos descritos, é fato comprovado pela medicina que, do ponto de vista fisiológico, ou seja, a formação orgânica não muda, afinal, [são] homens que foram formados com testosterona durante anos, já as mulheres não têm esse direito em momento algum da vida”, diz o texto do projeto.
A iniciativa do pastor deputado se apoia no trabalho do fisiologista Turíbio Barros, colaborador do projeto Eu Atleta, e com longo histórico de atuação no esporte profissional. Segundo ele, a testosterona é um anabolizante que faz com que a massa muscular do homem seja maior do que a da mulher, influenciando na velocidade, na força e na potência do indivíduo – o homem produz em média de sete a oito vezes mais testosterona do que a mulher.
Atletas trans se submetem a um tratamento hormonal que equipara o nível de testosterona, levando a uma perda de força, resistência e velocidade. Porém, segundo Turíbio Barros, os atletas trans carregam parte da herança de anos de crescimento com níveis masculinos de testosterona, e usa o termo “background físico” para se referir a isso.
“Certamente ela se beneficiou da testosterona até o momento da cirurgia e do tratamento hormonal. Ela adquiriu um físico. Claro que, quando ela faz o tratamento, ela perde parte dos benefícios que ganhou, mas não é tudo. Então, ao comparar com uma atleta que nasceu mulher, ela tem vantagem sim, não tem como negar”, diz o projeto do pastor Altair Moraes.
Tifanny vem atuando a partir de uma liberação da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) para atuar na Superliga, uma vez que segue os parâmetros determinados pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Mas existe uma comissão de estudos em andamento na Federação Internacional de Vôlei (FIVB) para estudar a participação de atletas transexuais no vôlei, o que momentaneamente funciona como um impedimento para sua convocação para a Seleção Brasileira.