Um vídeo gravado por um jovem homossexual que se identifica como um ex-evangélico, filho de uma ex-pastora, afirmando que a Bíblia Sagrada narra um romance gay entre Davi e Jônatas se tornou viral no Facebook.
O autor do vídeo, Daniel Ricardo, diz que as Escrituras Sagradas são usadas pelas pessoas para condenar a prática homossexual, mas que isso seria um erro, pois em sua interpretação, Davi e o filho de Saul eram amantes.
Lendo versículos fora de contexto dos livros de I e II Samuel, Ricardo opina que a amizade entre ambos envolvia sexo, e que por isso, a homossexualidade não é proibida pela Bíblia Sagrada: “Agora, se vocês distorcem isso para falar que, eu ser quem eu sou é errado, o problema é de vocês, não meu. Vamos ler a Bíblia”, convida.
Considerando-se um profundo conhecedor das Escrituras por, supostamente, ter sido membro de uma igreja evangélica (não especificada) por anos seguidos, Ricardo afirma que sua mãe realizava cultos em casa. Ele também não explica os motivos do afastamento.
O vídeo alcançou mais de 1,1 milhão de visualizações apenas no Facebook, assim como 15,3 mil compartilhamentos. No YouTube, vários canais reproduziram o conteúdo. Assista:
Distorção
O pastor Renato Vargens, da Igreja Cristã da Aliança, publicou um artigo rebatendo esse argumento, que não é usado apenas pelo jovem Daniel Ricardo, mas por muitos ativistas gays, e chama a atenção para a armadilha escondida nesse discurso.
“A relação de Jônatas e Davi vai muito além de um relacionamento afetivo sexual. Na verdade, os textos bíblicos sobre suas vidas nos mostram que a relação entre o homem segundo o coração de Deus e o filho de Saul, fora uma relação de amizade. Além disso, a expressão ‘ultrapassando o amor de mulheres’, não aponta para um amor homossexual. Aliás, quem foi que disse que o amor entre iguais é maior que o amor de mulheres? Ora, vamos combinar uma coisa? Essa é uma interpretação equivocada e que tenta de alguma maneira, ainda que de forma inconsciente, incutir na cabeça de quem quer que seja, que o amor entre homossexuais é maior que entre os heterossexuais”, pontuou.
Vargens explica que no texto original, em hebraico, o termo usado por Davi e traduzido como “amor” tem um significado abrangente, mas destituído de conotação sexual: “A palavra ‘ahavá’ usada por Davi significa muito mais que amor sexual […] Também é usada no sentido paternal (‘Isaque gostava de Esaú’, em Gn 25.28), no sentido de amizade (‘Saul afeiçoou-se a Davi’, em 1 Sm 16.21), no sentido de amor a Deus (‘Amarás o Senhor, teu Deus’, em Dt 6.5) e no sentido de amor ao próximo (‘Amarás o próximo como a ti mesmo’, em Lv 19.18). Ademais, ao contrário do que defendem alguns, as Escrituras nos mostram que Davi e Jônatas vivenciaram uma amizade genuína, pura e santa. Do ponto de vista da Bíblia a amizade entre dois homens além de viável é extremamente louvável”, concluiu.