A Polícia encontrou na região norte da Nigéria mais de 1.000 pessoas em regime de semiescravidão em centros islâmicos de formação que operavam de forma ilegal no país. A maioria era composta por estudantes do sexo masculino que estavam acorrentados, espancados, escravizados, famintos e, em muitos casos, estuprados.
A primeira ocorrência foi em setembro, quando cerca de 300 homens e meninos foram resgatados de escolas que, supostamente, têm como propósito recuperar pessoas de situações de indisciplina, abuso de drogas e outras demandas consideradas inaceitáveis.
No entanto, os policiais encontraram nesses centros crianças de até 5 anos acorrentadas a grades de metal com os pés amarrados. A operação fez com que o presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, anunciasse em 15 de outubro que não toleraria mais abusos e condições desumanas nesses locais, conhecidos como “Almajiris”.
Após essa primeira operação, a Polícia também libertou centenas de pessoas em centros localizados nos estados de Kaduna e Katsina, incluindo outro na cidade de Buura, Daura, na cidade de Buhari.
“O presidente ordenou que a polícia dissolvesse todos esses centros e que todos os presos fossem entregues aos pais”, disse um porta-voz presidencial à imprensa, segundo informações do Christian Post. “O governo não pode permitir centros onde pessoas, homens e mulheres, sejam maltratadas em nome da religião.”
Segundo à agência internacional de notícias Reuters, no total, mais de 1.000 pessoas foram libertadas das escolas ilegais de formação islâmica na Nigéria. Um dos presos em uma das operações realizadas em Daura se chama Mallam Bello Abdullahi Umar, de 78 anos.
Uma testemunha chamada Fahad Jabrila Mubi, que ficou detida no centro administrado por Bello, informou à Polícia que o mesmo também praticava abusos sexuais contra os internos. Algumas vítimas desenvolveram problemas mentais em decorrência do sofrimento.
“O proprietário (Malam Bello) está ciente do que está acontecendo aqui”, disse Mubi ao se referir ao centro de formação. “Ele também sodomiza os presos. Não há nenhuma lição sendo ensinada aqui, não adoramos ou rezamos, é sempre batendo e mais surras. Temos pessoas que passaram cerca de oito anos, cinco, três e um ano aqui”, completou.
Além dos abusos físicos e psicológicos, também não havia condições de acolhimento dos internos. Muitos eram colocados em locais minúsculos, onde eram obrigados a viver em uma condição degradante, sem higiene e privação de liberdade.
“Eu era assistente do líder do meu quarto. Tínhamos 32 em um quarto. E é uma sala pequena. Se você estivesse apertado à noite para querer defecar, tínhamos sacos de celofane que usávamos e passávamos pela janela para quem dorme ao ar livre”, disse Hassan Adamu, outra testemunha.
“Quanto à urina, nós urinávamos dentro de um galão e, se você não tivesse um, você urinava no recipiente de alimentos. De manhã, você despejava a urina e usava o mesmo recipiente para seu pai”, concluiu.