A perseguição religiosa aos cristãos possui várias vertentes. Antes de sofrer danos físicos, por exemplo, como a extrema violência praticada pelos terroristas do Estado Islâmico ou do Boko Haram, que seguem o Alcorão, livro sagrado para os muçulmanos, os cristãos são vítimas de uma escalada de narrativas, como a acusação de “blasfêmia”, que tem como objetivo restringir seus direitos e legitimar os atos de violência.
Um dos casos mais emblemáticos nesse sentido é o da cristã Asia Bibi, que permaneceu presa por quase dez anos no Paquistão, após ser acusada de “blasfêmia” em 2009, simplesmente por questionar os feitos de Maomé, considerado profeta pelos muçulmanos.
Falando pela primeira vez após a sua libertação, direto do Canadá, onde agora vive como refugiada com a sua família, Bibi destacou como a acusação de “blasfêmia” é usada para perseguir os cristãos em seu país.
“Peço a Deus que todos os envolvidos em casos de blasfêmia sejam libertados e que Deus os ajude”, disse Bibi ao Sunday Telegraph. “Deveria haver mecanismos de investigação adequados ao aplicar esta lei. Não devemos considerar ninguém pecador por esse ato [blasfêmia] sem nenhuma prova”.
Jovem condenado à perpétua por “blasfêmia”
Outro caso, também ocorrido na República Islâmica do Paquistão, é o do jovem Yaqoob Bashir Masih, de apenas 20 anos. Em 2015 o rapaz foi acusado de “blasfêmia” por queimar o Alcorão e enterrá-lo.
Todavia, Masih possui deficiência mental e não agiu contra a fé islâmica por maldade. Ignorando os fatos, uma multidão de religiosos extremistas e reuniu para atear fogo nele, mas o caso terminou indo parar na prisão, com o jovem condenado à pena perpétua.
Por fim, mais um caso ocorrido no bairro de Farooq-e-Azam, localizado na cidade de Karachi, também Paquistão, ilustra como a acusação de “blasfêmia” pode atingir proporções gigantescas.
Na ocasião, cerca de 200 famílias cristãs foram atacadas por extremistas islâmicos, após uma muçulmana acusar falsamente quatro irmãs cristãs de blasfêmia, segundo informações da organização International Christian Concern (ICC).
William Stark, gerente da ICC, explicou na época como às leis contra a “blasfêmia” são usadas para perseguir os cristãos no país. “Com muita frequência, essas leis têm sido uma ferramenta nas mãos de extremistas que buscam incitar a violência por motivos religiosos contra as comunidades minoritárias”, disse ele.
“Sem uma reforma real, as minorias religiosas, incluindo os cristãos, enfrentarão mais falsas acusações de blasfêmia e a extrema violência que frequentemente acompanha essas acusações”, conclui, segundo o Christian Post.