Por força de uma legislação recente e amplamente restritiva, um aplicativo cristão foi encerrado na China na última semana. A lei em questão proíbe veiculação de conteúdo religioso que não pertençam às religiões autorizadas pelo governo, que só pregam o que é autorizado pelo regime comunista.
Os responsáveis pelo aplicativo em questão afirmaram que, desde o dia 01 de março, quando a legislação entrou em vigor, vinham sendo feitas tentativas de obter autorização para seguir funcionando, mas a postura das autoridades denotou intenção de estrangulamento do conteúdo, o que inviabilizou a continuidade do projeto.
“Desde a implementação [das novas regras] em 1º de março, fizemos vários esforços para solicitar uma Licença de Serviço de Informações Religiosas da Internet. Tomamos várias ações, incluindo suspender o compartilhamento, alterar nosso nome, ajustar o conteúdo, mas obter uma licença requer uma redução muito maior na funcionalidade e no conteúdo”, afirmou a equipe do CathAssist.
O CathAssist era um aplicativo voltado a cristãos católicos, com sermões explicativos sobre a Bíblia Sagrada e sua mensagem. De acordo com a organização de monitoramento da perseguição religiosa International Christian Concern (ICC), um cristão que vive em uma província da região norte do país relatou que o aplicativo deixou de funcionar na última quarta-feira, 24 de agosto.
“[A equipe do aplicativo cristão] trabalhou duro por vários meses [para obter a licença], mas no final falharam, então foi encerrado. Eu usei o CathAssist para ouvir o padre explicando a Bíblia todos os dias, bem como muitos outros conteúdos espirituais católicos. Senti que estava perdendo muito quando descobri que não estava mais disponível”, declarou o fiel.
Repressão
As autoridades comunistas intensificaram a repressão ao cristianismo desde que Xi Jinping assumiu a presidência do país e iniciou um processo cultural chamado “sinicização”, que força a adaptação de diferentes conteúdos, incluindo religiosos, aos ideais do Partido Comunista da China (PCCh).
As novas medidas administrativas para os serviços de informação religiosa na Internet trazem procedimentos que englobam diversas autarquias do governo, sob o pretexto de “segurança”, segundo a entidade Bitter Winter, que monitora os detalhes da perseguição religiosa contra cristãos na China.
“As medidas exigem uma ‘Licença de Serviço de Informações Religiosas da Internet’, que só pode ser concedida a organizações que façam parte das cinco religiões autorizadas (uma vez que devem ser ‘legalmente estabelecidas’, o que só é possível dentro das cinco organizações controladas pelo governo), para divulgar conteúdos religiosos através da internet. Qualquer outra referência à religião na rede é declarada ilegal”, explica o relatório da Bitter Winter.
“Mesmo as organizações dentro das cinco religiões autorizadas estão sujeitas a vigilância e limitações. Elas podem transmitir sermões e lições, mas estes seriam verificados pelas autoridades por seu conteúdo ‘sinicizado’, garantindo que promovam os valores socialistas e apoiem o partido, e não se destinem a ser ferramentas de proselitismo”, acrescenta o documento.
“As universidades e faculdades religiosas podem disseminar conteúdo pela Internet apenas para seus alunos. Qualquer tentativa de espalhar conteúdo religioso para menores ou ‘induzir os menores a acreditar na religião’ levará ao cancelamento da licença”, finaliza a entidade.