Cristãos que cometem suicídio vão para o céu? Esse tema delicado foi debatido por dois apologistas cristãos em meio ao luto enfrentado por muitas famílias, incluindo viúvas de pastores, que perderam entes queridos para esse ato de desespero.
O ex-ateu Jonathan Noyes, agora um escritor apologista cristão, juntou-se ao professor e apologista Sean McDowell para um debate online ao vivo na última semana para abordar a questão “O suicídio é visto como imperdoável aos olhos de Deus?”.
Ambos os apologistas concordaram que a Bíblia sugere que o suicídio não leva à condenação dos cristãos, e ambos concordaram que “a maneira pela qual alguém morre não determina seu destino final [eterno]”.
A dupla enfatizou a graça de Deus para uma humanidade quebrada, aludindo a Efésios 2:8 : “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé – e isto não vem de vós, é dom de Deus”.
Há alguns anos, uma aterradora onda de suicídios marcou o segmento cristão nos Estados Unidos e no Brasil, dentre outros países. Um dos casos ocorridos nos EUA foi o do pastor Jarrid Wilson, que atuava na megaigreja Harvest Christian Fellowship em Riverside, Califórnia (EUA), sob liderança do pastor Greg Laurie, e sofria de depressão.
No Brasil, outros casos chocaram o público evangélico: um pastor da Assembleia de Deus no Maranhão foi encontrado morto em sua casa, com sinais de suicídio. A esposa relatou que ele lutava contra a depressão.
Um segundo caso, do pastor, teólogo e saxofonista André Paganelli, ocorreu em janeiro deste ano. Ele havia se tornado capelão do departamento de Polícia de Los Angeles (Califórnia), no cargo de oficial primeiro-tenente, e também sucumbiu à longa batalha contra depressão.
Salvação
“Se um ateu morre por suicídio, ele vai para o inferno – não por causa de seu suicídio, mas por causa de sua falta de confiança em Jesus. O mesmo é verdade para os cristãos. Um cristão que morre por suicídio vai para o céu porque é cristão”, disse Noyes, palestrante do ministério de apologética Stand to Reason.
“O componente fundamental de ser cristão é que você coloca sua esperança [e] sua fé em Jesus. Você ‘confessa com sua boca que Jesus é o Senhor e acredita em seu coração que Ele ressuscitou dos mortos’”, acrescentou.
Da mesma forma que Deus pode perdoar outros pecados, Noyes e McDowell afirmam que Deus também pode perdoar o suicídio de cristãos: “Sou cristão. Eu sei quem é Jesus. Tenho um relacionamento fantástico com Deus. E se eu sair dos limites do meu casamento, se eu trair minha esposa, ainda serei salvo? Sim, porque não sou salvo por minhas obras; isso significa que não perco minha salvação por minhas obras… Bem, o mesmo é verdade [para o suicídio]”, reiterou Noyes.
“O arrependimento é um dom que nos é dado por Deus, não uma obra que devemos fazer para sermos salvos por Deus. […] É como a fé. A fé é um dom; assim é o arrependimento”.
Tempo de arrependimento
McDowell abordou um argumento comum para defender a ideia de que os cristãos que morrem por suicídio não vão para o céu porque não tiveram tempo de se arrepender depois de morrerem.
“Claramente, é um ato final e não há tempo para se arrepender. E você ainda pode se perguntar se alguém entende o perdão que está pedindo antes de fazê-lo”, disse McDowell sobre a lógica do argumento.
Entretanto, McDowell rejeitou essa ideia, argumentando que os cristãos que não se arrependem de todos os pecados que cometeram antes de morrer não serão condenados porque já são salvos pela “fé pela graça”.
Ele acrescentou que seria uma “maneira paralisante de viver” se “a salvação de um cristão dependesse de seu arrependimento”.
“Eu não estou vivendo neste constante dar e receber com Deus; que se eu contar uma mentira, eu perco minha salvação, até que eu peça arrependimento, [ou se eu] tiver um pensamento lascivo, eu perco a salvação até que peça arrependimento… Isso não reflete a realidade de Jesus quando Ele diz: ‘Meu fardo é leve’”, conceituou.
Noyes concordou com McDowell e afirmou que se Deus tornasse o arrependimento um requisito para cada crente para que eles pudessem entrar no céu, ele não faria o corte:
“Sou um miserável… Se você dissesse: João ‘confesse cada pecado agora mesmo’. Eu poderia confessar um monte, mas vou esqueceria de alguns. Porque eu faço coisas [pecaminosas] sem nem mesmo saber”.
“A esperança do cristão para a glória futura deve estar em um relacionamento inabalável com o Deus Redentor”, reiterou Noyes, pontuando que não é uma busca meritória, e que embora a graça seja um favor divino, não pode ser usada como “desculpa para buscar o suicídio”.
“O suicídio é um pecado grave. […] É um auto-assassinato. Isso entristece a Deus. Nunca é agradável a Deus. E parte de ser cristão é que nunca corremos em direção ao nosso pecado. Fugimos dele. Queremos viver mais como Jesus, não menos como Jesus”, encerrou, de acordo com informações do portal The Christian Post.