O ativismo ateu assumiu, nos últimos anos, uma postura agressiva e não menos violenta que grande parte dos casos de perseguição religiosa mundo afora. Isso fica evidenciado na declaração do engenheiro e ativista ateu Daniel Sottomaior, admitindo que há uma pregação de ódio à religião no discurso do movimento.
Sottomaior há anos é presidente da Atea (Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos), que tem a pretensão de representar todos os ateus e agnósticos do país (1% da população diz não acreditar em Deus e 8% se declara sem religião ou agnóstico).
Seguindo a cartilha do ativismo ateu norte-americano, a Atea repete a estratégia da Freedom From Religion Foundation (nos EUA, a entidade se vale de poderio econômico para constranger, censurar e proibir manifestações de fé sob ameaça de processos longos e custosos), e abre ações judiciais contra iniciativas religiosas no Brasil.
De acordo com informações do jornal Folha de S. Paulo, a Atea tem movido processos contra a prefeitura do Rio de Janeiro, por conta da autorização do prefeito Marcelo Crivella (PRB) para a realização de ações sociais promovidas pela Igreja Universal do Reino de Deus dentro das estruturas das escolas da rede municipal. Até o templo construído por PMs na sede do BOPE virou alvo da implicância dos ativistas.
Ódio
Essas ações de hostilidade, por outro lado, colocaram a Atea na alça de mira da Justiça. O Ministério Público de São Paulo pediu a instauração de um inquérito policial por conta de publicações ofensivas da entidade no Facebook, que agora são investigadas como “prática de crime de ultraje a culto”.
Na matéria da Folha, a jornalista Anna Virgínia Balloussier traduz a postura de Atea: “Em outras palavras: intolerância religiosa”. Em casos recentes, os ativistas ateus zombaram, por exemplo, das mortes dos jogadores e demais passageiros do voo da Chapecoense, o que gerou enorme repulsa por parte dos usuários das redes sociais.
A provocação usou uma montagem com uma foto do time fazendo preces em campo e outra do avião destroçado, com a legenda “pode confiar, amiguinho, Deus é fiel”. A falta de compaixão pelo drama humano se assemelha à ausência de empatia de um psicopata. Quando o menino sírio que morreu afogado na tentativa de chegar a Grécia se tornou notícia, a Atea tripudiou: “Se Deus existisse, seria um canalha”.
“A gente quer odiar a religião, ela merece. Querem nos culpar por memes religiosos? Pois nos declaramos culpados desde já”, afirmou Daniel Sottomaior, 46 anos. A postura, novamente, parece inspirada em outro famoso ateu norte-americano: Hemant Mehta, que versa com o ódio religioso frequentemente em artigos e vídeos.
No caso das publicações em que expressaram completo desprezo pela fé de bilhões de pessoas ao redor do mundo, as críticas foram tão intensas que os ativistas ensaiaram um pedido de desculpas “por não ter mostrado mais claramente como a religião se aproveita de momentos de dor como este para impedir o pensamento racional”.
Sottomaior, no entanto, não recua da ideia de que sua visão de mundo deve ser imposta a quem não pensa como ele, e lança mão de uma metáfora para tentar se explicar: “Digamos que um belo dia alguém evoque o Supremo Enxugador de Gelo, um ser incorpóreo. O movimento dá crias, começam as desavenças entre os grupos, o enriquecimento com enxugamento de gelo alheio, a ideia de que quem não enxugar gelo é mau. E, no fim, enxugar gelo não vai ajudar ninguém”, diz, irônico.
A jornalista Balloussier define, em seu texto, a postura de Sottomaior: “Birra”. A matéria também aborda a implicância dos ateus com a isenção tributária garantida na Constituição Federal às igrejas e demais templos religiosos, e sua insistência de que trata-se de uma ofensa ao Estado laico.
A Constituição traz em seu preâmbulo a declaração de estar promulgada “sob a proteção de Deus”. Para Sottomaior, “poucas pessoas se dão conta” de que esse trecho da carta magna valida “o dízimo obrigatório ao estabelecer que igrejas e templos de qualquer culto têm imunidade tributária”.
A demonstração de ignorância a respeito das tradições religiosas cristãs vai além. Sottomaior omite o fato de que os fiéis já pagam impostos de renda de seus ganhos e contribuem com as igrejas a partir do que sobra dos salários, sufocados pela alta carga tributária do país.
O ativista ateu também faz uma distorção de raciocínio forçada ao sugerir que se as igrejas não tivessem isenção tributária, os fiéis não contribuiriam: “É como se o governo concedesse um subsídio às entidades religiosas no valor integral dos impostos devidos ao fisco. […] Esse dinheiro, claro, sai do seu bolso”, diz Sottomaior.
A intolerância e contradições do ativista não passaram despercebidas da jornalista da Folha: “Sottomaior prega o ódio contra religiões e acha que isso não é sinônimo de intolerância contra seus adeptos (‘ideias não têm direito, pessoas sim’). Ao mesmo tempo, critica o que julga ser preconceito contra os descrentes”, criticou Balloussier.
Democracia
Na reportagem, a Folha colheu depoimento do deputado federal Hidekazu Takayama (PSC-PR), líder da bancada evangélica na Câmara, sobre o tema. Para o parlamentar, a Atea peca num ponto: “O Estado é laico e tem que continuar assim. Mas eles, os ateus, têm que entender que o povo daqui é 85% cristão. A democracia é clara. A maioria vence”, afirmou.
O proselitismo ateu e suas manifestações de ódio ignoram que o conceito de laicidade do Estado e as liberdades de crença e religião, asseguradas também a quem não crê, nasceram da Reforma Protestante, há 500 anos, quando a posição da Igreja Católica como um dos elementos que formam o Estado foi questionada.
“É preciso ter presente que o Estado é laico, mas a cultura brasileira é marcada pela religiosidade. O próprio Estado deve garantir a liberdade de expressão religiosa, não somente privada, mas também pública”, diz dom Sergio da Rocha, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, alertando para o fato de que o cerceamento à liberdade religiosa representa também uma censura cultural.
“Quem combate as manifestações religiosas não contribui para a construção de uma democracia madura”, reiterou Rocha.