Os trabalhos sociais desenvolvidos por igrejas evangélicas em presídios é um dos mais reconhecidos pelos servidores públicos que atuam em penitenciárias, e deu origem a uma espécie de “território evangélico” nas unidades prisionais.
No Rio de Janeiro, por exemplo, dentre as 100 instituições religiosas com aprovação da Secretaria de Administração Penitenciária (SEAP) para trabalhar nos presídios, 81 são evangélicas, e a maioria dessas, pentecostais.
Um dos nomes mais conhecidos na Penitenciária Esmeraldino Bandeira, no Complexo de Gericinó é o do missionário Edson Lisboa, 84 anos, da Igreja Universal do Reino de Deus. “Eu adoro estar aqui. Faço isso para Jesus, para Deus, é um prazer”, resume.
Lisboa classifica as atividades promovidas pelas seis igrejas evangélicas no local como uma espécie de “hospital espiritual”. As celebrações são agendadas, com duas horas de duração. Além das reuniões feitas por instituições evangélicas, há um dia reservado para a Igreja Católica e outro para um centro espírita.
A presença maciça de igrejas de diversas denominações deu origem a um templo interdenominacional, que os detentos chamam de Igreja Evangélica Esmeraldino Bandeira, com 57 anos de existência.
O detento Ronaldo da Cruz Magalhães, de 49 anos, diz que o templo de sua unidade é o “mais organizado e antigo”, e recebe pastores da Primeira Igreja Batista de Éden, da Igreja Batista Vieira Fazenda, da Igreja Universal do Reino de Deus, da Primeira Igreja Batista em Parque União, da Igreja Metodista Wesleyana e da Igreja Assembleia de Deus em Bangu.
Magalhães, que antes de se envolver com o tráfico de drogas era pastor, hoje coordena as atividades como cultos, batismos, uma banda e um coral no presídio.
O pesquisador Clemir Fernandes, sociólogo e coordenador da pesquisa “Assistência religiosa em prisões do Rio de Janeiro: um estudo a partir da perspectiva de servidores públicos, presos e agentes religiosos (e uma proposta de recomendação à Seap)”, do Instituto de Estudos da Religião (ISER), afirma que a atuação das igrejas evangélicas nos presídios é um retrato do que acontece na sociedade como um todo.
“Esta predominância acompanha uma tendência de crescimento dos evangélicos na sociedade, apontada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na pesquisa, percebemos que tanto para os detentos quanto para os funcionários das penitenciárias, a presença religiosa tem um efeito apaziguador e calmante em um ambiente muito tenso”, constatou Fernandes, fazendo referência ao crescimento de 61% dos evangélicos entre os anos de 2000 e 2010.