Um dos autores da novela Babilônia acusaram os incentivadores do boicote ao beijo gay têm postura “ditatorial” e querem incentivar a “discriminação e a intolerância”.
Ricardo Linhares concedeu uma entrevista e afirmou que ele e os colegas não recuarão diante do boicote, mantendo a ideia de filmar um casamento gay entre as duas personagens lésbicas. Ele é coautor de Babilônia ao lado de Gilberto Braga e João Ximenes Braga.
Para Linhares, as convocações de parlamentares da bancada evangélica ao público para que estes boicotem a novela é uma ação oportunista: “São reações de uma minoria, que não tem qualquer amparo legal. Os deputados estão fazendo barulho na tentativa de se promover às custas do sucesso da novela. Ao usar suas posições no Congresso para atacar a Rede Globo e a novela das nove, eles querem atrair a atenção da mídia para si. E assim se exibir nos seus redutos eleitorais”, afirmou o autor.
O autor disse ainda que o movimento de boicote não pode ser atribuído aos evangélicos como um todo, mas sim, a um grupo que responde às manifestações dos líderes de maior visibilidade: “A intenção é meramente política e oportunista, e não de crença. Tantos os deputados quanto esses pastores não têm respaldo para falar em nome de toda uma comunidade religiosa. Por isso, não se deve dizer que ‘evangélicos propõem boicote’, pois não é uma atitude generalizada. A maioria dos evangélicos é formada por pessoas sérias e respeitosas”, frisou.
Ricardo Linhares foi além e reconheceu que a proposta de boicote não é um crime em si: “Todos têm direito de propor boicote a um programa de TV. Vivemos numa democracia. É lamentável que a motivação seja obscurantista e ditatorial, promovendo a discriminação e a intolerância. Mas desde que não haja violência nem ataques pessoais, todos são livres para se manifestar”, pontuou.
Ao final da entrevista ao site Notícias da TV, Linhares fez críticas ao projeto do Estatuto da Família, que pretende estabelecer o conceito de família previsto na Constituição como a união de um homem, uma mulher e seus filhos.
“Definir família como formada unicamente por macho e fêmea é inconstitucional. A união de pessoas do mesmo sexo é uma entidade familiar reconhecida pelo STF. Não há distinção entre a família heteroafetiva e a homoafetiva. Determinados grupos religiosos querem reduzir o conceito de família, na contramão da pluralidade contemporânea. O Brasil é um país laico. E os fundamentalistas religiosos não podem impingir suas idiossincrasias aos outros. Basta olhar ao redor para ver que inciativas reacionárias, como o Estatuto da Família, não correspondem à realidade. O mundo mudou. E não há volta. A novela reflete o cotidiano do outro lado da telinha. Eu sou um autor progressista. Acredito que a televisão, ao mesmo tempo que entretém, deve levar o espectador a refletir sobre o mundo em que vivemos”, finalizou.