“Não vamos mais somente aceitar que frequentem o nosso espaço: daremos voz a eles, permitiremos que tenham cargos religiosos”, ele diz.
“Nossa igreja saiu do armário”, declarou Ricardo Gondim, acrescentando em seguida o efeito colateral do ativismo: “Perdemos muitos fiéis”. A nova realidade da Igreja Betesda, outrora uma megaigreja voltada à classe média em São Paulo, é de crise financeira.
Gondim, que iniciou sua trajetória evangélica numa Igreja Presbiteriana, ainda jovem, e depois migrou para o pentecostalismo tornando-se pastor da Assembleia de Deus, trouxe a Betesda para São Paulo em 1991.
Há onze anos, Gondim iniciou um maior distanciamento dos preceitos basilares da doutrina evangélica, endossando o chamado “casamento gay” e rejeitando de forma mais enfática a soberania de Deus.
Em maio, a curva fechada em direção ao liberalismo teológico se transformou num cavalo de pau: Gondim anunciou que a Betesda passaria a endossar a homossexualidade, oferecendo cargos na congregação aos LGBT que frequentam a igreja, e que celebrará as uniões entre pessoas do mesmo sexo: “O primeiro deve acontecer em janeiro”, contou.
A reação dos membros foi imediata, segundo o próprio Gondim relatou à Veja: “Ouvi perguntas do tipo: ‘Meu filho vai aprender a ser homossexual?’, ou ‘Vão acontecer comportamentos inadequados dentro da igreja?’”.
A insatisfação não parou por aí, com uma debanda de dois terços dos membros: o templo de 8 mil metros quadrados, que costumava receber 2.600 pessoas por domingo, agora recebe aproximadamente 800. Para disfarçar o esvaziamento, bancos vazios foram trocados por outros móveis.
“Rolou um ‘cancelamento’ nas redes sociais, os haters [críticos] surgiram em massa. Postavam frases como: ‘Você vai morrer e dançar com o capeta no inferno’”, queixou-se o líder da Betesda.
Sem as ofertas e dízimos dos fiéis, Gondim se viu obrigado a apelar a empréstimos para pagar as contas: “Tivemos de fazer dívidas em bancos para pagar as contas. Passamos pela pandemia sem precisar de empréstimos, mas não pelo ‘cancelamento’. A nossa igreja depende de um milagre”, lamentou, do púlpito, no dia 11 de setembro, enquanto divulgava uma rifa de um Ford Ka branco, ano 2015, para ajudar na arrecadação.
Gondim, que estudou teologia na Califórnia (EUA), estado conhecido como reduto progressista dentro do país, mostrou na mesma entrevista que seu distanciamento da mensagem bíblica é ainda mais profundo: “Discordo da tese do pecado original. A teologia comum acha que a humanidade toda é corrompida devido ao pecado de Adão. Entendo essa narrativa bíblica como um relato místico, uma poesia, não como fato histórico”.
“A homossexualidade não é pecado, Deus ama a todos. Tampouco seremos uma igreja só para gays: vamos fazer fóruns sobre negritude, mulheres, violência doméstica. Perdemos muitos fiéis, sim. Mas a sensação é a de que estamos fundando uma nova igreja”, finalizou, indicando que o mergulho no progressismo continuará enquanto a Betesda continuar sob sua liderança.